quarta-feira, 29 de junho de 2011

Conflitos de interesse: compreender melhor é o primeiro passo a ser dado

Uma compreensão limitada do que vem a ser conflito de interesse tem atrapalhado e impedido uma discussão mais aberta sobre o tema na Medicina e suas potenciais conseqüências. Muitos associam automaticamente o termo a comportamento corrupto ou fraudulento, e isto é apenas a "ponta do iceberg". O problema é que trazer a discussão a partir de exemplos da ponta do iceberg, como eu mesmo venho parcialmente fazendo há algum tempo, pode aumentar a cortina de fumaça em torno do assunto. E isto é péssimo!

Usemos as sociedades médicas como exemplo. É público e notório que por vezes é praticamente impossível não se envolver [através delas] em relações determinantes de conflitos de interesse, em razão de estruturas da própria organização e circunstâncias da Medicina de hoje, e não da vontade individual de seus líderes ou de seus membros.

Segundo Bryn Williams-Jones, Université de Montréal, Bioehics Programs, “COI’s are not inherently unethical; sometimes professional and institutional arrangements make COI likely, even inevitable”.

É preciso que o termo seja “descriminalizado”, para que uma discussão aberta sobre o assunto seja possível. Atualmente, uma discussão deste tipo não é vista sequer como opção para vários homens de bem – amedrontam-se, e possuem as suas razões.

Williams-Jones defende a necessidade de:
  1. Remove its pejorative connotations (“COI is Bad!”)
  2. Expand its scope to include nonfinancial personal and institutional interests, so that
  3. people come to recognize that COI is something that we often have to live with and manage.
Howard Brody, University of Texas Medical Branch, escreveu recentemente que “being in a position to be tempted to abandon one’s advocacy duty is not the same as actually having abandoned that duty. So a preliminary conclusion is that conflict of interest, properly understood, functions as an ethical red flag, warning us to be on the lookout for possible ethical breaches, rather than as an actual accusation of having commited an ethical violation”.

Alguns críticos da indústria farmacêutica acreditam que elas existem hoje apenas para produzir “me-too drugs” e eventos adversos. Não me incluo neste grupo. No outro extremo, há quem somente veja as coisas boas que fazem e as vidas que salvam. A verdade certamente está em algum local entre estas duas visões, e a maioria de nós reconhece isto.

Ocorre que muitos que minimizam qualquer problema envolvendo a indústria farmacêutica o fazem também porque não lhes são oferecidas boas alternativas para trabalhar sem ela. Surge então a clássica resposta: - “Bobagem, temos coisas mais importantes para discutir”. Imagine o quão desconfortável fica o presidente de uma associação médica neste cenário, considerando ainda o fato de que discutir o que fazer com um conflito é aceitar que ele existe, e, ele existindo, antiético já seria o tal presidente. Precisamos quebrar este ciclo vicioso e avançar. Procurar uma atmosfera que facilite a integração de pessoas com diferentes visões de mundo será crucial.

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