domingo, 8 de dezembro de 2019

Devemos individualizar sempre?

Isso como mantra há algum tempo tem incomodado-me: território para coaches que supostamente vendem soluções para tudo.

Mesmo que, em decorrência da autonomia, conduzamos nossos paciente por caminhos não adequados - do ponto de vista estritamente técnico, nosso papel é fazer com que tomem a decisão o melhor informados possível, os apoiando, direta ou indiretamente, no caminho que escolherem.

Mas informar, por vezes, é contrariar. E contrariar ampara-se justa e precisamente na questão das médias! Ou deveria...


 

domingo, 1 de dezembro de 2019

Profissões Não Médicas da Saúde: não percam o cavalo encilhado!

Temos um dito popular, no Rio Grande do Sul, que diz: "o cavalo encilhado não passa duas vezes".
Pois a Medicina é uma enorme fonte de ensinamento por seus equívocos, caminhos mal escolhidos, consequências negativas não intencionais de decisões ancoradas em boas intenções, outras nem tanto (corporativismo excessivo) - mas ainda assim habitualmente não conscientes.

Não porque a Medicina é intrinsicamente pior do que qualquer outra profissão da saúde, mas simplesmente porque possui maior vivência em inúmeros territórios com estradas escorregadias ou mesmo porções de terra movediças. 

Já abordei a questão dos conflitos de interesse em outros textos. Os médicos eram "privilegiados" pelo assédio quase exclusivo da indústria até pouco tempo. E eram fortemente criticados por todas as outras profissões da saúde. Quando o fenômeno diluiu-se, passaram elas a reproduzir o que médicos afundados em relações conflituosas costumavam dizer: "não sei quanto aos outros, mas eu sei gerenciar". Quando não aceitavam a vulnerabilidade dos outros, mas mantinham o discurso do "eu ético"(expressão que já compôs título de um deles: O cérebro ético na Medicina (o eu ético – o outro não), Saúde Business 2015.

Mas recentemente, outra perspectiva restou-me evidente, após um post de Instagram.

Contato divulgou festivamente o encaminhamento da solicitação de alguns exames:


Curioso, cliquei no perfil do "candidato à doente". Um adulto jovem, sadio por avaliação obviamente superficial, mas constituição corporal de gente provavelmente muito sadia mesmo. Compartilha momentos em atividades físicas, e comendo churrasco.

Então brinquei: "Muito legal ficares expondo meus colegas médicos... provavelmente um monte de exames desnecessários". 

Eis que, contrariando minha interpretação, essa foi a resposta:

"É nutricionista. Mulher dele kkkkk. Ela pede um monte de exame e com frequência. Pro lab é bom hahahahaha". 

Resolvi dar trela:

"Possui perfil lipídico recente, alterado?"

"Normal".

Não, não sou dos que acredito não servir para nada, inclusive valorizo bastante uma avaliação basal como rastreamento de hiperlipidemia familiar, ou simplesmente para avaliar risco cardiovascular. Entretanto, se o resultado é normal, novas solicitações devem ser guiadas por alguma mudança no panorama global e o potencial de intervenções melhorarem desfechos clínicos. Ou não?

Para quê B12 já junto do hemograma (com anterior normal)? Num carnívoro!!!!!

Albumina??? Considerando probabilidade pré-teste para quê? Desnutrição???? Inadequação nutricional? Qual seria a probabilidade de representar qualquer falso-positivo ou artefato? O que estaria pensando em fazer depois?

Então lembrei de quando iniciei com meu Educador Físico há cerca de 15 anos e ele solicitava que os alunos com baixa probabilidade pré-teste para complicações trouxessem autorização de cardiologista para início de atividades - consigo, pois na imensa maioria das vezes já praticavam, sem orientação. Meu Educador Físico possui mente científica - é, na verdade, um cientista na sua área. Ao longo de anos, o fiz refletir: "adultos jovens saudáveis precisam necessariamente ver um cardiologista, ou poderia ser um clínico ou médico de família? Testes cardíacos realmente evitam o que estás temendo? O prejuízo probabilístico não será maior se criares obstáculos à atividade física bem feita? Quem sabe em paralelo, então? Não desperdiça a "janela de oportunidade" dos teus pacientes! Não terão educadores físicos ideais condições de triar definitivamente os casos de muito baixo risco, sem ajuda do médico?". Nitidamente modificou postura, cresceu como profissional, como especialista que é.

O que nutricionistas precisam dar-se conta é que, na maioria das vezes, não precisam dos exames para orientar o que precisa ser orientando, mesmo adaptando-se à variação aceitável nas preferências nutricionais das pessoas. Casos excepcionais devem ser tratados como tal, e provavelmente em equipe multiprofissional. Até mesmo nos casos de pacientes não saudáveis, o tipo de competência e habilidade que precisam fortalecer é para mudar comportamentos (e já há ciência nesse campo, ansiando por aplicação, área que muitos poucos médicos fazem bem) - o pulo do gato não está em exames diagnósticos. O que precisam para entender que assim movimentam-se de encontro do fortalecimento da própria profissão? Ou, pelo menos, ao encontro de um lugar onde a magnitude dos benefícios pretendidos é questionável para pacientes, embora ainda lucrativo, em que profissões amontoam-se, quando não acotovelam-se, cada vez menos diferenciadas... 

Felipe Reis, um fisioterapeuta fora da caixa, parece concordar um pouco comigo quando escreve:

Leia na íntegra clicando


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