quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Medicina Baseada em... Versões

Precisamos buscar entender sem preconceitos as bases destas diferenças, para aprimorar o método e preservar a MBE:

Vacina para ninguém: No último congresso de prevenção quartenária, em novembro último, o médico de família e comunidade Rodrigo Lima fez uma apresentação sobre os senões da vacina contra o HPV. Concluiu dizendo que não aplicaria em filhas suas e que suas pacientes receberão a mesma recomendação. Folha de São Paulo 28.01.2014

Vacina para todo mundo - Folha de São Paulo 29.01.2014


Divertidíssimo olhar desdobramentos das matérias em redes sociais: visões diametralmente opostas, defesas exaltadas dos pontos de vista maniqueístas, aqueles defendendo as vacinas com um discurso politicamente correto ao extremo, irritante de tão bonito, preocupadíssimo com o bem estar das pessoas. Já quem aparece criticando a vacina clama por uma visão mais ampla, que considera potenciais consequências negativas até mesmo das coisas que parecem inteiramente boas.

Hehehe - os ativistas anti-intervenções médicas, principalmente inovações, costumam ser politicamente de esquerda. Esta associação é clara, e não é incomum confundirem as pautas. Engraçado ver que quando discutem política os argumentos simplesmente invertem-se de lado... mantendo-se visões diametralmente opostas e defesas exaltadas dos pontos de vista.

Quando falo em entender as bases das diferenças, refiro-me na verdade a cultivarmos uma postura de permanente questionamento e reflexão = busca permanente por tentar entender as bases das diferenças. No fim é isto o importante. A vida não é, usualmente, de certos e errados absolutos. Mas este exercício, inclusive do auto-questionamento, é fundamental.

Aceitar que diversos fatores podem nos afastar da verdade é muito importante. Lembro que quando percebi que, sistematicamente, enquanto buscava atualização em temas como Medicina Hospitalar ou transfusão de hemácias, utilizava na busca expressões como "hospitalists benefits" ou “transfusion risks” e "bloodless medicine", pude recalibrar meu método – antes chegava sempre a meu ponto de partida. Na competição entre duas certezas, nunca acontecerá parecido – ganha quem desqualificar o outro, e não quem busca a verdade.

Claro para mim apenas o conceito de que uma Sociedade Brasileira de Médicos Vendedores de Vacinas não deveria ser o porta voz dos defensores de vacina. E entender a razão disto é outra parte importante da equação...

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Check-ups: mais mal do que bem?

Cada vez mais surgem evidências de que os check-ups que se limitam a seguir apenas uma lista de exames preestabelecidos não trazem benefício algum. Existe uma ideia equivocada (entre médicos e entre pacientes) de que só uma longa lista de exames é capaz de prevenir doenças. LEIA EM MATÉRIA DA FOLHA DE SÃO PAULO!

Quem desejar leituras adicionais, indico os textos do amigo Luis Cláudio Correia sobre o tema (leia aqui).

sábado, 4 de janeiro de 2014

Os médicos norte-americanos chamam, pejorativamente, de "admitologist"...


Ocorre nos EUA também. De apresentação de Eric M. Siegal, MD, SHHM, Board of Directors, Society of Hospital Medicine, pesquei este slide para demonstrar como a discussão é essencialmente a mesma lá e aqui:


Trata-se de um embate filosófico e científico entre a Medicina Hospitalar de Wachter (que cunhou o termo hospitalist), seguida por boas instituições norte-americanas, e 'the "industrial" model of hospital medicine'. 

O próprio Siegal, na mesma apresentação, sugere que o trabalho possa ser feito, mas que deve existir contrapartida, como espaço, na mesma instituição, para ser hospitalista de verdade. Alerta, é claro, para o risco de internistas absorverem pacientes em momento crítico (toda internação costuma ser) e situações específicas que deveriam determinar avaliação imediata por sub-especialistas - um neuro-cirurgião, por exemplo. 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Judicialização da Saúde e Conflitos de Interesse

Fonte: Zero Hora, Humberto Trezzi e Julia Otero

Com 113 mil processos em tramitação, o Rio Grande do Sul concentra 51% dos processos em todo o país envolvendo remédios ou tratamentos médicos.

Os tribunais são a arena na qual pacientes, advogados, médicos e promotores se digladiam pelo destino de verbas milionárias, gerenciadas pela União, pelos 27 Estados e pelos mais de 4 mil municípios brasileiros.

Recorrer à Justiça é um direito. O problema é que algumas das demandas dos pacientes são polêmicas, pela duvidosa comprovação científica do tratamento requisitado ou pelo seu altíssimo custo.

Se comparado com o universo de 80 milhões de ações que tramitam por ano em todos os fóruns, não são muitos processos. Mas os valores movimentados pela saúde são milionários. Nas varas judiciais pede-se de tudo um pouco, de comidas especiais para quem tem intolerância alimentar até dietas repletas de chocolates, docinhos de leite condensado e outras guloseimas – que o advogado garante serem indispensáveis para o paciente.

Será que todos os tratamentos reivindicados à Justiça são necessários? 

– Nunca se tomou tanto remédio e em doses tão exageradas – resume Leonildo Mariani, assessor técnico da Federação das Associações de Municípios-RS (Famurs), especialista em judicialização da saúde. 

O governo do Estado costuma contestar pedidos via judicial, mas na maioria das vezes acaba obrigado a financiar a demanda, num custo que, ao final, é bancado pelo contribuinte. É raro magistrados desconfiarem dos pedidos dos pacientes.

Os gastos com a judicialização de medicamentos, na secretaria, são crescentes: R$ 141 milhões em 2011, R$ 127 milhões em 2012 e R$ 192 milhões até outubro de 2013. Um salto de 36% em dois anos – e 2013 ainda não terminou.

OS INTERESSES EM JOGO

Ninguém é contra o governo custear medicamentos e tratamentos, desde que os pedidos tenham critério.

Esta é a síntese do que pensam especialistas ouvidos por Zero Hora. O desafio é reduzir a judicialização, garantindo um bom atendimento à população.

Coordenador do Comitê Executivo Estadual do RS do Fórum Nacional do Judiciário para a Saúde, o juiz Martin Schulze ressalta que o SUS já propicia atendimento à maioria dos pacientes. Por isso, tratamentos experimentais só devem ser custeados se antes o governo financiar o básico para todos.

– Não é isso que acontece em muitos casos judicializados: gente desesperada busca na Justiça recursos milionários para tratamentos duvidosos. Outro problema é o lobby de laboratórios e indústrias farmacêuticas, que estimulam o ingresso na Justiça por produtos que não constam na lista do SUS – diz o juiz.

Se tentassem emplacar lançamento de novas drogas junto à Comissão Incorporadora de Tecnologias (Ministério da Saúde), os laboratórios teriam dificuldade e precisariam se submeter a licitações, envolvendo concorrentes e baixos preços, opina Leonildo Mariani, assessor técnico da Federação das Associações de Municípios-RS (Famurs).

– Pela judicialização, fabricantes de medicamentos conseguem vender por maior preço e sem concorrência, já que o pedido de tratamento é atendido rapidamente, via liminar. 

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