Tudo o que acontece nos eventos médicos é hoje patrocinado pela indústria de remédios e de equipamentos.O mesmo assunto já foi trabalhado por Ray Moynihan, University of Newcastle, New South Wales, and visiting editor, BMJ: ‘Doctors’ education: the invisible influence of drug company sponsorship.
A maioria (58%) dos médicos paulistas ouvidos em pesquisa do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de SP), divulgada ontem pela Folha, concorda que os congressos sejam financiados pela indústria. Uma parcela (19%) vai ainda mais longe: é favorável a que a indústria opine sobre a programação de congressos e simpósios médicos. As sociedades médicas garantem que essa interferência não ocorre. Nem mesmo quando os próprios palestrantes do evento são patrocinados pela indústria.
Segundo o cardiologista Miguel Antonio Moretti, coordenador de planejamento e infraestrutura da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia), é a entidade que escolhe o palestrante, sem nenhuma interferência do patrocinador.
“A empresa custeia a passagem aérea, a hospedagem e a alimentação do palestrante, mas é a SBC que decide quem vai trazer. Ética e transparência são uma questão de honra para nós.”
Moretti afirma que o custo do congresso médico é muito alto e, sem o apoio da indústria, o valor teria que ser repassado aos médicos, o que inviabilizaria a participação da maioria deles.
“Não é todo médico que pode se dar ao luxo de ficar quatro, cinco dias sem ganhar nada e ainda tirar do bolso R$ 3.000, R$ 4.000 para participar de um congresso. Sem a indústria, esse custo seria muito maior.”
O médico José Luiz Gomes do Amaral, presidente da AMB, diz que os 4.000 eventos científicos que ocorrem anualmente no Brasil são essenciais não só para a atualização médica como para a troca de opiniões. “A indústria pode divulgar, patrocinar os congressos médicos. O que não pode é distorcer a informação.”
Fonte: Folha de São Paulo / Claudia Collucci
We’ve all been there—the educational seminars, the medical symposiums, and the scientific conferences generously sponsored by big drug companies. The visible signs of sponsorship at these events are obvious. But what about inside lecture theatres, where high quality education is delivered to doctors by respected speakers?
It is not uncommon for drug company sponsors to suggest speakers at sessions that are assumed by the thousands of general practitioners who attend them to be totally independent.
In the case of one popular Australian provider of medical education, HealthEd, leaked documents and emails from a range of sources show drug company sponsors having input into the selection of some speakers at seminars held in recent years, despite the fact that these have been aggressively sold to general practitioners in brochures claiming that “all content is independent of industry influence.”
In an email to the drug giant Sanofi-Aventis, HealthEd asks, “Could you please suggest a couple of speakers for our scientific committee’s approval?” One of the speakers suggested by the drug company sponsor is subsequently accepted and delivers a presentation at a HealthEd seminar. Doctors attending that seminar, held at a university, were not verbally informed of the sponsor’s role in suggesting speakers.
In another email the drug company Organon, now part of Schering-Plough, writes that “we would like to put forward the following two doctors for consideration” as speakers for a seminar on women’s health. The educational provider replies, “We will do our best to accommodate your request.” The drug company’s suggested speakers are ultimately accepted, provoking this grateful response to the educational provider: “I would like to again sincerely thank you for the political help . . . in respect of orchestrating the favourable consideration of the proposed topic and speaker.”
When asked about its sponsorship arrangements with HealthEd, Schering-Plough’s managing director in Australia, Shaju Backer, said that “as part of the sponsorship, [drug] companies are allowed to suggest speakers and topics.”
top level “platinum” sponsors were routinely offered the chance to “work with us to determine a speaker and topic for the programme”
O presidente da AMB entende que "a indústria pode patrocinar os congressos médicos. O que não pode é distorcer a informação". Ora bolas, o ponto de partida deveria ser: distorcemos informações nos eventos médicos, voluntariamente ou não. Como resolver ou atenuar o problema?
Ou não existe isto e matérias como a do BMJ são meras sementes da discórdia plantadas pela "mídia comunista"?
Ou não acontece destas coisas no Brasil?
Ou não existe isto e matérias como a do BMJ são meras sementes da discórdia plantadas pela "mídia comunista"?
Ou não acontece destas coisas no Brasil?
Direto ao ponto:
1. Nos eventos que organizei, sendo os principais o I CBMH e o PASHA2010, aconteceu de patrocinadores participarem da grade do evento transmitindo informações ao público. Alguns, quando abordados na busca por patrocínio, já haviam previamente recebido o convite. Na ocasião, chamamos isto de estratégia de captação de parceiros comerciais.
2. Sim, eu teria eventualmente fechado a grade destes eventos diferente, se não houvesse estabelecido alguns conflitos de interesse e/ou vínculos comerciais.
3. Muitas das palestras já proferidas por mim representando entidades médicas ocorreram havendo o patrocínio pela entidade ao evento que me recebeu como speaker.
Tudo isto envolve questões bastante complexas, e particularmente são complicadas aquelas que percorrem o capítulo das possíveis soluções para alguns problemas decorrentes. Simples é reconhecer que existem.
Algumas vezes até percebemos o potencial conflito de interesse em si, mas reconhecendo (corretamente) que se expor não significa por si só sucumbir ou cometer ato antiético ou imoral, criamos justificativas para aceitá-lo e aumentamos os riscos. A relativização poderia se dar por acreditarmos em um benefício maior para o movimento ou grupo que representamos, por exemplo. Na prática, ocorrem pressões para relativização e elasticidade moral variadas e por todos os lados. Desconfio automaticamente de quem nega isto, principalmente se já esteve a frente de entidades médicas.
Reconhecendo que vivemos cercados por potenciais conflitos, ao fazer eventos independentes das farmacêuticas, optei por não ter nenhum com as farmacêuticas. Fiz outras escolhas, percori outros caminhos. E não foram sem potenciais conflitos - isto provavelmente pouco existe.
Fazendo da maneira que fiz, acredito um pouco mais em declaração de conflitos de interesse. No que definitivamente não acredito é na negação geral de influência e simples declaração de potenciais conflitos. É como negar a natureza humana do ser humano.
Também não sou simpático à tese de que as lideranças são lideranças justamente porque estão preparadas para lidar com isto. Isto já foi parcialmente discutido em http://www.campanhaalerta.com.br/comentar_noticia.php?id=37#comentarios2 e http://www.campanhaalerta.com.br/index.php?formulario=noticias&metodo=0&id=43&voltar=sim.
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