É avançadíssima a parceria da American Thoracic Society com as organizações farmacêuticas!
Declaram potenciais conflitos de interesse financeiros, mas, segundo a ATS: "the grants have no influence on the content, quality and scientific integrity of this CME activity".
Ao sair do quarto do hotel pela manhã para ir ao ATS2011, o participante encontrava propaganda personalizada na porta. As farmacêuticas recebem, portanto, todas as informações, inclusive onde estás hospedado e o número do apartamento.
Na maçaneta, em um dos dias, havia uma propaganda muito bem bolada. Dentro da sacola, ofereciam conhecimento e brinde tentador.
Com a indústria ficando na área de exposição, o médico tem a opção, na origem, de buscar ou não o contato. Não deveria o evento garantir pelo menos isto? Bom ponto para discussão.
Em certos momento, quase tive vergonha de ter ido aos EUA e a um evento tão caro inteiramente com recursos próprios. Muitos brasileiros que encontrei perguntaram: "Vieste por quem? (leia-se, por qual laboratório?).
Houve um jantar em Denver da Sociedade Brasileira de Pneumologia. "Era para ter sido por adesão ($50), mas acabou que laboratório pagou", contou um amigo. Nossas próprias sociedades nos empurram para este tipo de relação envolvendo ganho de presentes.
Fiquei com a nítida impressão algumas poucas vezes de que ocorreram apresentações "contaminadas", mas é impossível dizer se isto realmente aconteceu ou se simplesmente foi o caso de alguma opinião em territótio permitido, já que, especificamente onde me chamou a atenção, discutíamos assuntos definitivamente controversos.
Um dos pontos fortes do ATS2011 foi a atividade intitulada The consequences of five important papers: from the author (and the editor), da qual participaram ícones da Medicina Intensiva como Marini, Tobin e Connors. Conflitos de interesse estiveram direta ou indiretamente em discussão quando abordadas duas publicações: o PROWESS, ECR positivo da droga Xigris em sepse grave, e o EGDT Trial, estudo positivo do pacote Early Goal de Rivers. Sem entrar no mérito do impacto de potenciais conflitos de interesse nos resultados do PROWESS, até porque não foi o foco da discussão lá, percebi que era opinião de muita gente que a incorporação da evidência à prática foi mais prejudicada do que ajudada pela maneira como a milionária campanha de marketing do laboratório (umbelicalmente atrelada à Surviving Sepsis Campaign) foi conduzida. Nós médicos fomos literalmente empurrados contra a parede ("... because Xigris was relatively expensive, word would be spread that physicians were being "systematically forced" to decide who would live and who would die"). Novos ECR's estão em curso para avaliação do Xigris e da EGDT.
No final do ATS, realizaram um painel que discutiu relacionamento com a indústria. Mas trazendo quase que hegemonicamente somente um ponto de vista: a favor. Isto pode ser ilustrado pelo título de uma das apresentações: Industry-Academic Collaboration: An Example of Succes. Trago eu então um contraponto: The role of physician ‘opinion leaders’: Physicians who attended sponsored presentations by another physician wrote an additional $623.55 worth of prescriptions in the next year versus non-attendees. More intimate discussions were even more effective (average $717.53 extra sales per physician). From an internal Merck document, in: Caplovitz A. Turning Medicine into snake oil. NJPIRG Law & Policy Center, 2006.
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