terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Pode existir algo muito errado quando diagnósticos não são feitos na proporção relatada na literatura...

O que explica um médico cuidar de um certo perfil de pacientes por quase 20 anos, e só passar a ver um determinado diagnóstico depois de relacionamento amoroso, nos últimos anos?


Essa história é anedótica, mas talvez traga ensinamentos importantes…

Intensivista, acostumado com o pacote ´tubo orotraqueal / extubação / estridor / rouquidão / disfagia / eventuais falhas de extubação´, muito pouco fazia diagnóstico de comprometimento de corda vocal até conhecer uma laringologista especialista em via aérea.

Aí aprendeu que, entre especialidades diversas que abordam via aérea, algumas se saem melhor da traquéia para baixo, outras da laringe para cima... Que aquela fibro feita antes de extubar, que traciona o tubo e somente avalia razoavelmente bem da sua extremidade para baixo, deixa pendente muitos dos diagnósticos diferenciais dali pra cima.... Que muitos diagnósticos de via aérea são melhor feitos com o paciente já extubado e sob avaliação dinâmica. 

Antes do aprendizado, por vários anos, quase nenhum diagnóstico de paralisia de corda vocal. Que falha individual grotesca, não? Além de falta de curiosidade por anos a fio… Depois do "treinamento", deflagrou algumas triagens adequadas e viu fazerem alguns diagnósticos além de estenoses traqueais. 

No caso mais recente, viu paciente precisar de medialização ativa da prega vocal por laringologista, após não responder a fonoterapia.

Considerando que muitos desses tratamentos costumam ser condicionais (ou seja, a conduta só modifica se a etapa anterior falha), perspicaz a pergunta sobre a necessidade de uma avaliação completa precoce desses pacientes...

Ocorre que um granuloma (diagnóstico diferencial) já costuma demandar intervenção cirúrgica imediata e simples pelo laringologista…

Então, será mesmo um problema do intensivista em particular? Uma questão individual? Ou é desafio organizacional, sistêmico e até cultural? Não será, em parte, porque fizemos tudo sempre igual?

O intensivista era eu. As oportunidades de triagem sempre passaram ainda por outros profissionais e, quando passei a considerar mais a questão, segui vendo oportunidades serem ignoradas. No histórico tão prolongado, passei por UTIs sem adequado backup multiprofissional também. 
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