Sobre Medicina Hospitalar, hospitalistas, qualidade assistencial, segurança do paciente, erro médico, conflitos de interesses, educação médica e outros assuntos envolvendo saúde, política e cotidiano.
quarta-feira, 29 de junho de 2011
Chegou a hora de Medicina Hospitalar no Saúde Web!
A partir de agora, as principais postagens sobre Medicina Hospitalar estarão em http://saudebusiness.com/chegou-a-hora-de-medicina-hospitalar-no-saude-web-2/.
Conflitos de interesse: compreender melhor é o primeiro passo a ser dado
Uma compreensão limitada do que vem a ser conflito de interesse tem atrapalhado e impedido uma discussão mais aberta sobre o tema na Medicina e suas potenciais conseqüências. Muitos associam automaticamente o termo a comportamento corrupto ou fraudulento, e isto é apenas a "ponta do iceberg". O problema é que trazer a discussão a partir de exemplos da ponta do iceberg, como eu mesmo venho parcialmente fazendo há algum tempo, pode aumentar a cortina de fumaça em torno do assunto. E isto é péssimo!
Usemos as sociedades médicas como exemplo. É público e notório que por vezes é praticamente impossível não se envolver [através delas] em relações determinantes de conflitos de interesse, em razão de estruturas da própria organização e circunstâncias da Medicina de hoje, e não da vontade individual de seus líderes ou de seus membros.
Segundo Bryn Williams-Jones, Université de Montréal, Bioehics Programs, “COI’s are not inherently unethical; sometimes professional and institutional arrangements make COI likely, even inevitable”.
É preciso que o termo seja “descriminalizado”, para que uma discussão aberta sobre o assunto seja possível. Atualmente, uma discussão deste tipo não é vista sequer como opção para vários homens de bem – amedrontam-se, e possuem as suas razões.
Williams-Jones defende a necessidade de:
Alguns críticos da indústria farmacêutica acreditam que elas existem hoje apenas para produzir “me-too drugs” e eventos adversos. Não me incluo neste grupo. No outro extremo, há quem somente veja as coisas boas que fazem e as vidas que salvam. A verdade certamente está em algum local entre estas duas visões, e a maioria de nós reconhece isto.
Ocorre que muitos que minimizam qualquer problema envolvendo a indústria farmacêutica o fazem também porque não lhes são oferecidas boas alternativas para trabalhar sem ela. Surge então a clássica resposta: - “Bobagem, temos coisas mais importantes para discutir”. Imagine o quão desconfortável fica o presidente de uma associação médica neste cenário, considerando ainda o fato de que discutir o que fazer com um conflito é aceitar que ele existe, e, ele existindo, antiético já seria o tal presidente. Precisamos quebrar este ciclo vicioso e avançar. Procurar uma atmosfera que facilite a integração de pessoas com diferentes visões de mundo será crucial.
Usemos as sociedades médicas como exemplo. É público e notório que por vezes é praticamente impossível não se envolver [através delas] em relações determinantes de conflitos de interesse, em razão de estruturas da própria organização e circunstâncias da Medicina de hoje, e não da vontade individual de seus líderes ou de seus membros.
Segundo Bryn Williams-Jones, Université de Montréal, Bioehics Programs, “COI’s are not inherently unethical; sometimes professional and institutional arrangements make COI likely, even inevitable”.
É preciso que o termo seja “descriminalizado”, para que uma discussão aberta sobre o assunto seja possível. Atualmente, uma discussão deste tipo não é vista sequer como opção para vários homens de bem – amedrontam-se, e possuem as suas razões.
Williams-Jones defende a necessidade de:
- Remove its pejorative connotations (“COI is Bad!”)
- Expand its scope to include nonfinancial personal and institutional interests, so that
- people come to recognize that COI is something that we often have to live with and manage.
Alguns críticos da indústria farmacêutica acreditam que elas existem hoje apenas para produzir “me-too drugs” e eventos adversos. Não me incluo neste grupo. No outro extremo, há quem somente veja as coisas boas que fazem e as vidas que salvam. A verdade certamente está em algum local entre estas duas visões, e a maioria de nós reconhece isto.
Ocorre que muitos que minimizam qualquer problema envolvendo a indústria farmacêutica o fazem também porque não lhes são oferecidas boas alternativas para trabalhar sem ela. Surge então a clássica resposta: - “Bobagem, temos coisas mais importantes para discutir”. Imagine o quão desconfortável fica o presidente de uma associação médica neste cenário, considerando ainda o fato de que discutir o que fazer com um conflito é aceitar que ele existe, e, ele existindo, antiético já seria o tal presidente. Precisamos quebrar este ciclo vicioso e avançar. Procurar uma atmosfera que facilite a integração de pessoas com diferentes visões de mundo será crucial.
terça-feira, 28 de junho de 2011
O marketing das farmacêuticas sobre estudantes de Medicina afeta suas escolhas depois de formados?
To examine the extent of medical students’ relationships with industry – as well as the impact of these interactions – my colleagues, Kirsten Austad and Jerry Avorn, M.D., and I conducted a systematic review of the literature, examining all published studies on this topic and collecting the results from a total of 9,850 medical students studying at 76 medical schools.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Conflitos de interesse: possíveis soluções
Conversei demoradamente com a jornalista da Folha de São Paulo sobre o que gerou a matéria publicada em 14/06/2011. Por razões de fácil compreensão, apenas parte foi aproveitado. Sinto-me honrado de ter podido contribuir em meio a opiniões de pessoas tão importantes, como o presidente do Conselho Federal de Medicina.
Divulgo abaixo mais detalhes, e espero a partir disto poder abrir aqui um canal de discussão do mais alto nível sobre o assunto.
Não sou necessariamente a favor de todas as alternativas que serão elencadas abaixo para lidar com conflitos de interesse na Medicina. Há prós e contras na maioria delas. Discutí-las individualmente ou acrescentar à lista pode gerar um debate mais do que interessante e espero contribuições levando em conta que somente no último mês foram mais de 1.200 visualizações de páginas no Blog.
A matéria na Folha trouxe resultados do estudo mais recente, mas o fato é que têm surgido cada vez mais evidências de que a simples declaração de conflitos de interesse não é solução ou até pode piorar as coisas. Importante: Quando isto é dito, não significa que estimulemos a sua não realização. Significa dizer que isoladamente não serve!
Disclosure não é tão defendido por acaso. É “cost-free”, não proíbe nada, não pressupõe mudança de cultura nas organizações médicas, consola a massa e alivia pressões para que se busquem outros caminhos, alguns tortuosos.
Há vários pontos de intervenção possíveis na abordagem dos conflitos de interesse, e, pela sua complexidade, é improvável que qualquer alternativa isoladamente seja suficiente. No âmbito da prevenção, podemos citar ‘proibições’(como de receber presentes da indústria farmacêutica). Mas restam ainda diversas estratégias de educação e regulação (paralelamente a atuação profissional), bem como de penalizações ou compensações (a partir de atos executados). A tendência, para verdadeiramente atenuar o problema, tem sido agir em diversos pontos simultaneamente.
Então, se a transparência somente não resolve, o que pode ser feito? Usemos de exemplos práticos:
Proibir o médico de ganhar o iPad do laboratório? O risco de causar dano direto aos pacientes a partir de um médico ganhando um tablet de um propagandista é baixíssimo. Mas está comprovado que em larga escala esta prática influencia e altera o padrão das prescrições médicas. Os pacientes e a sociedade podem querer que sejam impostas restrições - e então caberia a quem os representa promover isto, doa a quem doer. Há mínimo valor social envolvido neste ato, e os pacientes e a sociedade teriam muito pouco a perder com a proibição dele. Contraria interesses corporativos poderosos.
Na Educação Médica Continuada: É possível defender (ou pelo menos debater melhor) algumas alternativas. Só não é possível ficar como estamos (leia-se: parados).
Nos Guidelines: Não permitir que indivíduos com grosseiros conflitos de interesse participem ou que, pelo menos, votem.
Por fim, mas não menos importante: Profissionalismo Médico. Profissionalismo pode modelar conduta de diversas formas, de maneira que mercado e controle estatal não podem ou não fazem. Devemos trabalhar isto desde o início da faculdade de Medicina e ininterruptamente a partir daí. Mas, se as autoridades públicas continuarem financiando inadequadamente o setor Saúde (e os médicos), será cada vez mais difícil por esta via.
Se médicos e sociedades médicas querem controlar seu trabalho, garantindo máxima autonomia (como dão sinais de querer), devem garantir à sociedade que o seu julgamento e suas orientações não estão comprometidos. Senão o fizerem, então outros assumirão este papel e não poderemos reclamar das conseqüências. Um bom começo é reconhecer que isoladamente não somos capazes de lidar bem com conflitos de interesse interna corporis (nenhuma corporação isoladamente seria). E, a partir disto, nos abrir para o debate e participar dele como protagonistas, evitando sermos vistos como parte do problema - e não da solução.
Divulgo abaixo mais detalhes, e espero a partir disto poder abrir aqui um canal de discussão do mais alto nível sobre o assunto.
Não sou necessariamente a favor de todas as alternativas que serão elencadas abaixo para lidar com conflitos de interesse na Medicina. Há prós e contras na maioria delas. Discutí-las individualmente ou acrescentar à lista pode gerar um debate mais do que interessante e espero contribuições levando em conta que somente no último mês foram mais de 1.200 visualizações de páginas no Blog.
A matéria na Folha trouxe resultados do estudo mais recente, mas o fato é que têm surgido cada vez mais evidências de que a simples declaração de conflitos de interesse não é solução ou até pode piorar as coisas. Importante: Quando isto é dito, não significa que estimulemos a sua não realização. Significa dizer que isoladamente não serve!
Disclosure não é tão defendido por acaso. É “cost-free”, não proíbe nada, não pressupõe mudança de cultura nas organizações médicas, consola a massa e alivia pressões para que se busquem outros caminhos, alguns tortuosos.
Há vários pontos de intervenção possíveis na abordagem dos conflitos de interesse, e, pela sua complexidade, é improvável que qualquer alternativa isoladamente seja suficiente. No âmbito da prevenção, podemos citar ‘proibições’(como de receber presentes da indústria farmacêutica). Mas restam ainda diversas estratégias de educação e regulação (paralelamente a atuação profissional), bem como de penalizações ou compensações (a partir de atos executados). A tendência, para verdadeiramente atenuar o problema, tem sido agir em diversos pontos simultaneamente.
Então, se a transparência somente não resolve, o que pode ser feito? Usemos de exemplos práticos:
Proibir o médico de ganhar o iPad do laboratório? O risco de causar dano direto aos pacientes a partir de um médico ganhando um tablet de um propagandista é baixíssimo. Mas está comprovado que em larga escala esta prática influencia e altera o padrão das prescrições médicas. Os pacientes e a sociedade podem querer que sejam impostas restrições - e então caberia a quem os representa promover isto, doa a quem doer. Há mínimo valor social envolvido neste ato, e os pacientes e a sociedade teriam muito pouco a perder com a proibição dele. Contraria interesses corporativos poderosos.
Na Educação Médica Continuada: É possível defender (ou pelo menos debater melhor) algumas alternativas. Só não é possível ficar como estamos (leia-se: parados).
- Proibição de patrocínios da indústria de medicamentos e tecnologias a congressos médicos.
O I Congresso Brasileiro de Medicina Hospitalar e o PASHA2010 demonstraram que é possível fazer grandes eventos sem a indústria de medicamentos. Teríamos que ampliar a discussão sobre financiamento alternativo ao tradicional para replicar isto em larga escala.
Por que não a partir dos impostos das farmacêuticas, por exemplo? Fosse para ser criado e aprovado algo assim, provavelmente não poderia beneficiar iniciativas como as desenvolvidas por mim ( I CBMH e PASHA2010), em não se tratando a Medicina Hospitalar de uma especialidade ou área de atuação reconhecida ainda. Não poderia ser feito um Projeto de Lei que considerasse esta sugestão ou algo parecido para benefiar especialidades reconhecidas pela Comissão Mista de Especialidade?
In the United States, commercial interests contribute over $2 billion annually for CME. If commercial support for other professional activities also amounts to $2 billiion, the $4billion spent would be 0,0016 percent of national health care spending in 2008, about $13,16 per person. The government could shoulder the cost of professional development without difficulty (Conflicts of Interest and the Future of Medicine, Marc A Rodwin, 2011).
- Tornar farmacêuticas incapazes de financiar diretamente. O fariam coletivamente e sob intermediação de conglomerado de entidades governamentais e não governamentais. Discutir regras claras e mecanismos de controle e transparência seria absolutamento necessário aqui.
- Peer Review dos congressos médicos (da importância dos temas ao conteúdo apresentado).
Será que todo evento de Clínica Médica precisa mesmo de uma palestra de disfunção erétil? Seria o controle disto possível de ser feito pela Comissão Nacional de Acreditação, já que é responsável por avaliar e autorizar cursos e eventos, bem como por assegurar a qualidade deles? Cabe lembrar que nós médicos pagamos indiretamente para manter a CNA (recebem do evento 3% sobre o maior valor de inscrição local x nº de participantes). Eu tenho tido dificuldades de enxergar retorno disto, já que não preciso de nenhum "incentivo" para participar de congressos.
- Organizações ou grupos independentes e sem conflitos de interesse (?) seriam responsáveis por desenvolver o programa dos eventos.Na Pesquisa Clínica: As farmacêuticas são as grandes financiadoras e sem elas poderia ocorrer um retrocesso. Muitas vezes controlam todas as etapas que culminam com a publicação de um ensaio clínico randomizado. O que pode ser feito? Permitir que sigam finaciando estudos, podem até fazê-los independentemente quando nas fases I ou II. No entanto, em se tratando de um estudo de fase III, exigiríamos que uma agência pública escolhesse os pesquisadores para fazer o design e conduzir o trial. Outra necessidade nesta área seria viabilizar melhor controle dos estudos de fase IV (Seeding Trials; The ethics of “seeding trials”; Seeding trials - marketing framed as science).
Nos Guidelines: Não permitir que indivíduos com grosseiros conflitos de interesse participem ou que, pelo menos, votem.
Por fim, mas não menos importante: Profissionalismo Médico. Profissionalismo pode modelar conduta de diversas formas, de maneira que mercado e controle estatal não podem ou não fazem. Devemos trabalhar isto desde o início da faculdade de Medicina e ininterruptamente a partir daí. Mas, se as autoridades públicas continuarem financiando inadequadamente o setor Saúde (e os médicos), será cada vez mais difícil por esta via.
Se médicos e sociedades médicas querem controlar seu trabalho, garantindo máxima autonomia (como dão sinais de querer), devem garantir à sociedade que o seu julgamento e suas orientações não estão comprometidos. Senão o fizerem, então outros assumirão este papel e não poderemos reclamar das conseqüências. Um bom começo é reconhecer que isoladamente não somos capazes de lidar bem com conflitos de interesse interna corporis (nenhuma corporação isoladamente seria). E, a partir disto, nos abrir para o debate e participar dele como protagonistas, evitando sermos vistos como parte do problema - e não da solução.
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Paciente não vê problema em relações conflituosas
Estudos mostram que os pacientes tendem a não se importar se o médico recebe dinheiro dos laboratórios.
"A pessoa se sente pressionada a ser generosa. Não quer demonstrar que desconfia do médico, mesmo se a situação não lhe favoreça", diz Sunita Sah, pesquisadora da Universidade Duke.
Em uma recente conferência sobre conflitos de interesse na escola de direito de Harvard, o psicólogo Mahzarin Banajim afirmou que o problema central é a certeza que temos de estar no comando de nossas decisões. "A psicologia e as ciências cognitivas têm mostrado que grande parte da nossa tomada de decisão ocorre inconscientemente."
Francesca Gino, da escola de economia de Harvard, descobriu em seus estudos que as pessoas que usam medicamentos prescritos por médicos particulares são ainda menos propensas a reconhecer os conflitos de interesse. "Embora a maioria de nós reconheça que os conflitos são, em tese, um problema, não queremos reconhecê-los em pessoas que conhecemos e que julgamos como boas e inteligentes", disse.
Estudos na área oncológica confirmam essa hipótese. Um trabalho publicado no "New England Journal of Medicine" mostrou que pacientes com câncer não se importam se seus médicos recebem dinheiro dos fabricantes de medicamentos, desde que o tratamento funcione.
Para Eric Campbell, da escola médica de Harvard, falta conhecimento aos pacientes sobre os efeitos dessas relações conflituosas.
"A pessoa se sente pressionada a ser generosa. Não quer demonstrar que desconfia do médico, mesmo se a situação não lhe favoreça", diz Sunita Sah, pesquisadora da Universidade Duke.
Em uma recente conferência sobre conflitos de interesse na escola de direito de Harvard, o psicólogo Mahzarin Banajim afirmou que o problema central é a certeza que temos de estar no comando de nossas decisões. "A psicologia e as ciências cognitivas têm mostrado que grande parte da nossa tomada de decisão ocorre inconscientemente."
Francesca Gino, da escola de economia de Harvard, descobriu em seus estudos que as pessoas que usam medicamentos prescritos por médicos particulares são ainda menos propensas a reconhecer os conflitos de interesse. "Embora a maioria de nós reconheça que os conflitos são, em tese, um problema, não queremos reconhecê-los em pessoas que conhecemos e que julgamos como boas e inteligentes", disse.
Estudos na área oncológica confirmam essa hipótese. Um trabalho publicado no "New England Journal of Medicine" mostrou que pacientes com câncer não se importam se seus médicos recebem dinheiro dos fabricantes de medicamentos, desde que o tratamento funcione.
Para Eric Campbell, da escola médica de Harvard, falta conhecimento aos pacientes sobre os efeitos dessas relações conflituosas.
Fonte: Folha de São Paulo 14/06/2011
domingo, 19 de junho de 2011
Importantes noções de gestão hospitalar por...
...dois estudantes de Medicina.
Gregory Mowrer e Layne Bettini são alunos provenientes da Mayo Clinic de Rochester (Minnesota), passaram uns dias em minha casa e proferiram palestra para estudantes de Medicina gaúchos, além de terem visitado hospitais e clínicas da rede privada e pública.
Durante a apresentação, salientaram o quanto o clima organizacional é bom na Mayo Clinic e justificaram isto por coisas que agradam a todos, além de atitudes dos gestores nem sempre simpáticas. "Já vimos médicos e enfermeiros serem demitidos por muito pouco quando a questão é cordialidade com pacientes. Alguns tecnicamente muuuuito bons". Perceba a diferença: A maioria das organizações permite comportamentos disruptivos e graves violações a regras, normas ou questões de bom senso. Por outro lado, fritam profissionais quando o assunto é falha na assistência - justamente aquelas falhas em que no moderno movimento de segurança do paciente reconhecem a importância de não culpar.
Contaram que na Mayo todos os trabalhadores são assalariados (ganhando bem) e que por isso não há pressão para uso de insumos e recursos por ganhos secundários. "Não importa quantos pacientes o médico veja e o que faz com sua caneta. Não ganham mais por isto. Promove e valoriza trabalho congnitivo e o uso racional de medicamentos e tecnologias".
Lá pagam diferente médicos e enfermeiros. Pagam diferente também médico anestesista e médico hospitalista (não preciso dizer quem ganha mais, né?). Mas ninguém reclama muito - problema mesmo é todo mundo ganhar pouco e trabalhar em precárias condições. Ninguém na Mayo questiona o médico como comandante da equipe multidisciplinar, embora voem muito mais alto profissionais como enfermeiros e farmacêuticos lá do que aqui.
No Brasil, falamos muito em trabalho em equipe, mas não sabemos ou não conseguimos fazer. No discurso o foco está no paciente, mas na verdade os focos são interesses corporativos/ideológicos/econômicos, em meio a uma realidade onde estão todos "matando cachorro a grito", carentes de dinheiro e de prestígio.
Greg e Layne Bettini aproveitaram para dar a visão deles sobre hospitalistas, e trouxeram muito objetivamente lições de como deveriam ser pensados por nossos gestores, ao retratarem como atuam lá e como se relacionam com os demais médicos do corpo clínico e da comunidade.
Os dois alunos levarão daqui, como eles próprios confidenciaram, tristes lembranças de nossas emergências superlotadas.
Gregory Mowrer e Layne Bettini são alunos provenientes da Mayo Clinic de Rochester (Minnesota), passaram uns dias em minha casa e proferiram palestra para estudantes de Medicina gaúchos, além de terem visitado hospitais e clínicas da rede privada e pública.
Durante a apresentação, salientaram o quanto o clima organizacional é bom na Mayo Clinic e justificaram isto por coisas que agradam a todos, além de atitudes dos gestores nem sempre simpáticas. "Já vimos médicos e enfermeiros serem demitidos por muito pouco quando a questão é cordialidade com pacientes. Alguns tecnicamente muuuuito bons". Perceba a diferença: A maioria das organizações permite comportamentos disruptivos e graves violações a regras, normas ou questões de bom senso. Por outro lado, fritam profissionais quando o assunto é falha na assistência - justamente aquelas falhas em que no moderno movimento de segurança do paciente reconhecem a importância de não culpar.
Contaram que na Mayo todos os trabalhadores são assalariados (ganhando bem) e que por isso não há pressão para uso de insumos e recursos por ganhos secundários. "Não importa quantos pacientes o médico veja e o que faz com sua caneta. Não ganham mais por isto. Promove e valoriza trabalho congnitivo e o uso racional de medicamentos e tecnologias".
Lá pagam diferente médicos e enfermeiros. Pagam diferente também médico anestesista e médico hospitalista (não preciso dizer quem ganha mais, né?). Mas ninguém reclama muito - problema mesmo é todo mundo ganhar pouco e trabalhar em precárias condições. Ninguém na Mayo questiona o médico como comandante da equipe multidisciplinar, embora voem muito mais alto profissionais como enfermeiros e farmacêuticos lá do que aqui.
No Brasil, falamos muito em trabalho em equipe, mas não sabemos ou não conseguimos fazer. No discurso o foco está no paciente, mas na verdade os focos são interesses corporativos/ideológicos/econômicos, em meio a uma realidade onde estão todos "matando cachorro a grito", carentes de dinheiro e de prestígio.
Greg e Layne Bettini aproveitaram para dar a visão deles sobre hospitalistas, e trouxeram muito objetivamente lições de como deveriam ser pensados por nossos gestores, ao retratarem como atuam lá e como se relacionam com os demais médicos do corpo clínico e da comunidade.
Os dois alunos levarão daqui, como eles próprios confidenciaram, tristes lembranças de nossas emergências superlotadas.
sábado, 18 de junho de 2011
Agradecimento à Sociedade Mineira de Terapia Intensiva
Pela oportunidade de participar hoje do XII Congresso Mineiro de Terapia Intensiva palestrando sobre Evidensed Biased Medicine e conflitos de interesse. Tive a oportunidade ainda de conhecer Paul Marik (Chief of Pulmonary and Critical Care Medicine, Thomas Jefferson University in Philadelphia), um ícone da Medicina Intensiva, que levou a quase todas as suas aulas pequenas doses do que para mim foi o tema central, tornando apresentações clínicas bastante instigantes e provocativas.
Abaixo alguns artigos recentes de Marik no mesmo tom:
Surviving sepsis: going beyond the guidelines
Early goal-directed therapy: on terminal life support?
Surviving sepsis guidelines and scientific evidence?
Abaixo alguns artigos recentes de Marik no mesmo tom:
Surviving sepsis: going beyond the guidelines
Early goal-directed therapy: on terminal life support?
Surviving sepsis guidelines and scientific evidence?
sexta-feira, 17 de junho de 2011
II Seminário Catarinense de Qualidade Hospitalar
Roger Pirath Rodrigues, um dos pioneiros em Medicina Hospitalar no Brasil, co-fundador em 2004 do Grupo de Estudos e Atualização em Medicina Hospitalar, irá falar sobre hospitalistas.
terça-feira, 14 de junho de 2011
O médico que declara seu conflito de interesse com a indústria farmacêutica é mais ético?
O médico que declara seu conflito de interesse com a indústria farmacêutica é mais ético? O senso comum diria que sim. Mas pesquisas recentes na área da psicologia experimental mostram que não é bem assim.
Ao revelar todos os laços que possam influenciar seu julgamento, o profissional se sente livre para continuar adotando comportamentos ainda mais antiéticos. A conclusão, de estudos em que são simulados cenários de conflitos de interesse, coloca em xeque a declaração feita pelos médicos em congressos e publicações científicas, em que eles reconhecem todo apoio financeiro recebido em seu trabalho.
"Não estamos dizendo que a transparência seja uma coisa ruim. Mas ela não funciona tão bem como pensávamos", disse à Folha o pesquisador Daylian Cain, economista do comportamento na Universidade Yale (EUA).
Ele e colegas realizaram experimentos que simulavam situações em que o médico (e outros profissionais, como advogados) tinham de decidir qual era a melhor indicação para o paciente/cliente. Os que tinham conflitos de interesse "como ganhar comissões pela indicação de um produto" deram mais conselhos em benefício próprio, não do paciente. Os pesquisadores perceberam que, ao revelarem ao paciente o conflito de interesse, os médicos se sentiram ainda mais à vontade para agir em causa própria.
"É o chamado licenciamento moral. A divulgação de um conflito deu às pessoas 'luz verde' para se comportar sem ética, como se fossem absolvidas por terem sido transparentes", diz Don Moore, professor de comportamento organizacional da Carnegie Mellon (Pensilvânia).
Para o professor da USP Reinaldo Ayer, diretor da Sociedade Brasileira de Bioética, o Brasil está atrasado nessas discussões. "Aqui, ainda temos de estimular que a declaração de conflitos de interesse seja rotina entre os médicos."
Roberto D'Àvila, presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), concorda: "Ao declarar, dou condição para quem está lendo uma pesquisa, assistindo a uma aula ou recebendo tratamento de saber que aquilo está contaminado por outros interesses". Para ele, declarar não acaba com o conflito, mas "torna a relação [entre os médicos e seus pares ou pacientes] mais transparente". O CFM e a Interfarma (associação das farmacêuticas multinacionais) estão elaborando um novo código de conduta ética.
Já o médico gaúcho Guilherme Brauner Barcellos afirma que a declaração não pressupõe mudança de cultura nas organizações médicas. "É insuficiente para proteger os pacientes." Barcellos preside a Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar, que há dois anos faz congressos sem ajuda dos laboratórios. "É possível fazer, mas precisamos discutir outras formas de financiamento da educação médica."
ERRATA: fui presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar até final de 2010!
Ao revelar todos os laços que possam influenciar seu julgamento, o profissional se sente livre para continuar adotando comportamentos ainda mais antiéticos. A conclusão, de estudos em que são simulados cenários de conflitos de interesse, coloca em xeque a declaração feita pelos médicos em congressos e publicações científicas, em que eles reconhecem todo apoio financeiro recebido em seu trabalho.
"Não estamos dizendo que a transparência seja uma coisa ruim. Mas ela não funciona tão bem como pensávamos", disse à Folha o pesquisador Daylian Cain, economista do comportamento na Universidade Yale (EUA).
Ele e colegas realizaram experimentos que simulavam situações em que o médico (e outros profissionais, como advogados) tinham de decidir qual era a melhor indicação para o paciente/cliente. Os que tinham conflitos de interesse "como ganhar comissões pela indicação de um produto" deram mais conselhos em benefício próprio, não do paciente. Os pesquisadores perceberam que, ao revelarem ao paciente o conflito de interesse, os médicos se sentiram ainda mais à vontade para agir em causa própria.
"É o chamado licenciamento moral. A divulgação de um conflito deu às pessoas 'luz verde' para se comportar sem ética, como se fossem absolvidas por terem sido transparentes", diz Don Moore, professor de comportamento organizacional da Carnegie Mellon (Pensilvânia).
Para o professor da USP Reinaldo Ayer, diretor da Sociedade Brasileira de Bioética, o Brasil está atrasado nessas discussões. "Aqui, ainda temos de estimular que a declaração de conflitos de interesse seja rotina entre os médicos."
Roberto D'Àvila, presidente do CFM (Conselho Federal de Medicina), concorda: "Ao declarar, dou condição para quem está lendo uma pesquisa, assistindo a uma aula ou recebendo tratamento de saber que aquilo está contaminado por outros interesses". Para ele, declarar não acaba com o conflito, mas "torna a relação [entre os médicos e seus pares ou pacientes] mais transparente". O CFM e a Interfarma (associação das farmacêuticas multinacionais) estão elaborando um novo código de conduta ética.
Já o médico gaúcho Guilherme Brauner Barcellos afirma que a declaração não pressupõe mudança de cultura nas organizações médicas. "É insuficiente para proteger os pacientes." Barcellos preside a Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar, que há dois anos faz congressos sem ajuda dos laboratórios. "É possível fazer, mas precisamos discutir outras formas de financiamento da educação médica."
ERRATA: fui presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar até final de 2010!
Fonte: Folha de São Paulo
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Outro estudo negativo com Times de Resposta Rápida
Rapid Response Team in an Academic Institution
Does It Make a Difference?
In this large before-after study in an academic tertiary care center, implementation of a rapid response team did not affect code rates or mortality rates. Rapid response teams continue to be controversial in their benefit, despite widespread adoption. They analyzed 16,244 nonobstetrics hospital admissions and 70,208 patient days in the control period and 45,145 nonobstetrics hospital admissions and 161,097 patient days after the RRT was implemented. The RRT was activated 1,206 times (7.7 calls per 1,000 patient days). There was no difference in the code rate (0.83 vs 0.98 per 1,000 patient days, P = .3). There was a modest but nonsustained improvement in nonobstetrics hospital mortality during the study period (2.40% vs 2.15%; P = .05), which could not be explained by the RRT effect on code rates. The mortality was 2.40% in the control group and 2.06%, 1.94%, and 2.46%, respectively, during the next three consecutive 9-month intervals. Although there was a decrease in overall hospital mortality, this decrease was small, nonsustained, and not explained by the RRT effect on code rates.
O que tinha na literatura até então apresentei recentemente no PASHA2010: Rapid Response Teams: Just highly contagious
Does It Make a Difference?
In this large before-after study in an academic tertiary care center, implementation of a rapid response team did not affect code rates or mortality rates. Rapid response teams continue to be controversial in their benefit, despite widespread adoption. They analyzed 16,244 nonobstetrics hospital admissions and 70,208 patient days in the control period and 45,145 nonobstetrics hospital admissions and 161,097 patient days after the RRT was implemented. The RRT was activated 1,206 times (7.7 calls per 1,000 patient days). There was no difference in the code rate (0.83 vs 0.98 per 1,000 patient days, P = .3). There was a modest but nonsustained improvement in nonobstetrics hospital mortality during the study period (2.40% vs 2.15%; P = .05), which could not be explained by the RRT effect on code rates. The mortality was 2.40% in the control group and 2.06%, 1.94%, and 2.46%, respectively, during the next three consecutive 9-month intervals. Although there was a decrease in overall hospital mortality, this decrease was small, nonsustained, and not explained by the RRT effect on code rates.
O que tinha na literatura até então apresentei recentemente no PASHA2010: Rapid Response Teams: Just highly contagious
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Farmacêutica realizou doação de US$ 1 milhão de dólares à Fundação Médica do Rio Grande do Sul
Um dos principais objetivos é colaborar no aprimoramento do atendimento primário de pacientes com diabetes (Programa Hiperdia). Uma das formas de fazer será através do monitoramento de qualidade em diversas etapas do atendimento, entre elas a do acesso à medicamentos. O Hiperdia também fornece um sistema informatizado de cadastramento e acompanhamento de pacientes hipertensos e diabéticos e ainda permite o acompanhamento e a garantia do recebimento dos medicamentos prescritos. Saiba mais.
Quais serão as medicações e insulinas de primeira escolha? A partir disto, "atualização das diretrizes clínicas de diabetes"? Pensei e imediatamente lembrei da aula do diabetologista britânico Edwin Gale.
Quais serão as medicações e insulinas de primeira escolha? A partir disto, "atualização das diretrizes clínicas de diabetes"? Pensei e imediatamente lembrei da aula do diabetologista britânico Edwin Gale.
PRO/CON Antipsicóticos em Pacientes com Demência
CON: Daniel Levinson
PRO: Daniel Carlat
Quem defende o uso é Carlat, o "anti-indústria farmacêutica", "radical"... autor de http://carlatpsychiatry.blogspot.com/ e Unhinged. É isto mesmo?
Serve para perceber que há muita gente envolvida na discussão sobre conflitos de interesse / educação médica independente que não é contra remédios ou contra quem os produz. Aliás, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
PRO: Daniel Carlat
Quem defende o uso é Carlat, o "anti-indústria farmacêutica", "radical"... autor de http://carlatpsychiatry.blogspot.com/ e Unhinged. É isto mesmo?
Serve para perceber que há muita gente envolvida na discussão sobre conflitos de interesse / educação médica independente que não é contra remédios ou contra quem os produz. Aliás, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Podemos acreditar no que lemos?
guardian.co.uk - 20 May 2011 |
Mais sobre Medical Ghostwriting:
NYTimes:
Medical Papers by Ghostwriters Pushed Therapy
Ghostwriting Is Called Rife in Medical Journals
Report Urges More Curbs on Medical Ghostwriting
PLoS:
Ghostwriting: The Dirty Little Secret of Medical...
Ghostwriting at Elite Academic Medical Centers...
JAMA: Guest Authorship and Ghostwriting in Publications Related to Rofecoxib
Jeffrey Lacasse and Jonathan Leo assess ghostwriting policies at 50 academic medical centers in the United States and find that only 10 explicitly prohibit ghostwriting.
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