...dois estudantes de Medicina.
Gregory Mowrer e Layne Bettini são alunos provenientes da Mayo Clinic de Rochester (Minnesota), passaram uns dias em minha casa e proferiram palestra para estudantes de Medicina gaúchos, além de terem visitado hospitais e clínicas da rede privada e pública.
Durante a apresentação, salientaram o quanto o clima organizacional é bom na Mayo Clinic e justificaram isto por coisas que agradam a todos, além de atitudes dos gestores nem sempre simpáticas. "Já vimos médicos e enfermeiros serem demitidos por muito pouco quando a questão é cordialidade com pacientes. Alguns tecnicamente muuuuito bons". Perceba a diferença: A maioria das organizações permite comportamentos disruptivos e graves violações a regras, normas ou questões de bom senso. Por outro lado, fritam profissionais quando o assunto é falha na assistência - justamente aquelas falhas em que no moderno movimento de segurança do paciente reconhecem a importância de não culpar.
Contaram que na Mayo todos os trabalhadores são assalariados (ganhando bem) e que por isso não há pressão para uso de insumos e recursos por ganhos secundários. "Não importa quantos pacientes o médico veja e o que faz com sua caneta. Não ganham mais por isto. Promove e valoriza trabalho congnitivo e o uso racional de medicamentos e tecnologias".
Lá pagam diferente médicos e enfermeiros. Pagam diferente também médico anestesista e médico hospitalista (não preciso dizer quem ganha mais, né?). Mas ninguém reclama muito - problema mesmo é todo mundo ganhar pouco e trabalhar em precárias condições. Ninguém na Mayo questiona o médico como comandante da equipe multidisciplinar, embora voem muito mais alto profissionais como enfermeiros e farmacêuticos lá do que aqui.
No Brasil, falamos muito em trabalho em equipe, mas não sabemos ou não conseguimos fazer. No discurso o foco está no paciente, mas na verdade os focos são interesses corporativos/ideológicos/econômicos, em meio a uma realidade onde estão todos "matando cachorro a grito", carentes de dinheiro e de prestígio.
Greg e Layne Bettini aproveitaram para dar a visão deles sobre hospitalistas, e trouxeram muito objetivamente lições de como deveriam ser pensados por nossos gestores, ao retratarem como atuam lá e como se relacionam com os demais médicos do corpo clínico e da comunidade.
Os dois alunos levarão daqui, como eles próprios confidenciaram, tristes lembranças de nossas emergências superlotadas.
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