Mas tratamentos não costumam ser milagrosos, infelizmente. Em outras palavras, via de regra não funcionam 'sempre', nem 'muito'. Como já escreveu meu amigo Luis (https://medicinabaseadaemevidencias.blogspot.com), "são situações probabilísticas, que sofrem da incerteza do “número necessário a tratar”. Por isso são necessários estudos.
Não surpreendem-me interpretações equivocadas disto tudo. Inclusive por isso alavanquei no Brasil a iniciativa Choosing Wisely. E existe como iniciativa global em mais de 20 países.
E até mesmo por entender o quão natural da mente humana é interpretar na direção oposta, não havendo literacia em estatística e/ou vontade de entender (o que por si só, em situações contra-intuitivas, também é natural do humano), associado à avalanche de informações que estamos vivendo, coloquei a CWB em modo quase stand-by. Estou com tanta preocupação em não gerar mais calor, que, se meu próprio hospital optar por incorporar Cloroquina, com ou sem Azitromicina, estou decidido a localmente acatar quieto (embora pessoalmente investisse em outras coisas, e não gostaria de trocar o incerto pelo conhecido perfil de efeitos adversos das drogas em questão - apesar de não alarmante, inquestionável, cientificamente real).
E até mesmo por entender o quão natural da mente humana é interpretar na direção oposta, não havendo literacia em estatística e/ou vontade de entender (o que por si só, em situações contra-intuitivas, também é natural do humano), associado à avalanche de informações que estamos vivendo, coloquei a CWB em modo quase stand-by. Estou com tanta preocupação em não gerar mais calor, que, se meu próprio hospital optar por incorporar Cloroquina, com ou sem Azitromicina, estou decidido a localmente acatar quieto (embora pessoalmente investisse em outras coisas, e não gostaria de trocar o incerto pelo conhecido perfil de efeitos adversos das drogas em questão - apesar de não alarmante, inquestionável, cientificamente real).
Mas algum contraponto precisa ser feito quando um dos donos dos maiores grupos empresariais multimídia do país vem a público dizer que saiu do hospital em razão de tratamento específico. Poderia ser qualquer tratamento específico. Ainda não temos nenhum para o COVID-19.
Ocorre que Nelsons, Silvios ou Hucks não conseguiriam identificar razão específica da melhora. E fariam um enorme desserviço, pelo grande alcance, ao promover ideias anti-científicas. Ainda mais frente a uma doença onde a maioria das pessoas melhora de qualquer forma. Ninguém conseguiria discriminar, não é sequer limitação de quem não seja profissional da saúde. Tente entender:
Indivíduo masculino de 57 anos
Segundo dados divulgados recentemente pelo CDC:
Entre 55-64 anos, letalidade na faixa de 1,4-2,6%
Vou me permitir não fazer o exercício com esses números. Quero superestimá-los, para não ficar tão fácil de entender meu ponto de vista.
Vamos colocar a letalidade estimada em 30% - parece uma boa forma de superestimar, considerando dois possíveis exercícios:
1. ~ 60 anos, sem, segundo informações públicas encontradas na internet, gravidade suficiente para considerarmos mais do que isso;
2. Ser 30% o pico de mortalidade geral de indivíduos com 85 anos ou mais.
https://www.cdc.gov/mmwr/volumes/69/wr/mm6912e2.htm?s_cid=mm6912e2_w
Fosse então 30% a letalidade estimada, 7 de 10 Nelsons, Silvios ou Hucks teriam a mesma alta do hospital, com melhora, independente de qualquer elemento a mais na equação.
Fosse qualquer nova intervenção efetiva, considerando que surgisse com um NNT de 10 (ótimo, = impacto do tratamento muito grande),
seria necessário tratar 10 pacientes para observar 01 benefício especificamente atribuível à nova intervenção. É assim que funciona, não como as mentes binárias querem acreditar!
Então não precisaria ser matemático ou estatístico para compreender que, se 7 de cada 10 Nelsons, Silvios ou Hucks sairiam melhor de qualquer jeito. E, do total, 1 em 10 teria seu resultado (prevenção de mortalidade) atribuído ao tratamento em discussão muito especificamente (o que não é verdade, é apenas um exercício mental). Bem como poderia existir um NNH (Harm), causando mortes especificamente pelo tratamento. É simplesmente impossível aos olhos da gente discriminar galardoados dos demais. É como se viessem disfarçados!
E muito melhor disfarçado do que isso! Nem o próprio contemplado seria capaz de reconhecer a si próprio. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário