terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O esqueleto no armário do hospital

O tempo passa! Há quase seis anos organizei este curso de Nutrição Hospitalar, em parceria com pessoal da Associação Gaúcha de Nutrição Parenteral e Enteral, para educação presencial de médicos residentes e estudantes de Medicina de Porto Alegre:

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Desnutrição Hospitalar: Estamos dando a atenção necessária?
Maria Cristina Gonzales Barbosa e Silva (42 minutos)

Avaliação Nutricional do Paciente Hospitalizado
Maria Cristina (25 minutos)



Nutrição Básica no Ambiente Hospitalar: Necessidades e Recomendações
João Wilney Franco Filho (22 minutos)

Uma Visão Prática da Nutrição Enteral para o Médico Hospitalista
Maria Cristina (35 minutos)

Encefalopatia Hepática: Existem Evidências para Restrição Protéica Sistemática?
Enrique Saldaña (11 minutos)

Obesidade: Mitos e Verdades no Paciente Hospitalizado
João Wilney (25 minutos)

Terapia Nutricional na Pancreatite Aguda
Enrique Saldaña (13 minutos)

Nutrição no Perioperatório
Sérgio Henrique Loss (33 minutos)

Terapia Nutricional na Insuficiência Renal Aguda
João Wilney (25 minutos)

Abordagem do Paciente Caquético - Ênfase em Cancer e AIDS
Enrique Saldaña (16 minutos)

Fístulas Entéricas: Abordagem Nutricional
João Wilney (22 minutos)

Se já mudou alguma por força de novas evidências, quisera ao menos este conhecimento acima fosse de domínio de quem maneja pacientes hospitalizados hoje.

A desnutrição em pacientes hospitalizados era para ser um tema valorizado...

Há quase 40 anos, existem evidências consistentes dos problemas - a desnutrição hospitalar em si e a sua subvalorização. O estudo Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional (IBRANUTRI), realizado em 1996, demonstrou que aproximadamente 48% da população hospitalizada, representada por 4000 casos estudados, apresentava algum tipo de desnutrição, sendo 12,6% desnutridos graves. Em sequência ao IBRANUTRI, o Estudo Latino-Americano de Nutrição (ELAN), de 2003, incluindo Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Cuba, México, Panamá, Peru, Paraguai, República Dominicana, Venezuela e Uruguai, demonstrou que aproximadamente 50% da população hospitalizada, numa amostra de 9233 pacientes estudados, apresentava algum tipo de desnutrição. E já sabemos há algum tempo também que o impacto disto é perverso. 

Um clássico intitulado O esqueleto no armário do hospital mostrou já na década de 70 a prevalência elevada da desnutrição hospitalar, e destacou a falta de atitude dos profissionais de saúde em relação ao problema (BUTTERWORTH et al.,1974). Posteriormente, o mesmo autor publicou outro artigo cujo título foi O esqueleto no armário do hospital – 20 anos depois, em que ele destaca que apesar de transcorridos tantos anos, a situação nos hospitais permanecia inalterada (BUTTERWORTH et al.,1994). Resultados semelhantes foram publicados por outros autores, sempre salientando o desconhecimento, o desinteresse e a apatia dos profissionais de saúde em relação ao tema.

Minha motivação na época vinha:

- da admiração por João Wilney Franco Filho buscando melhorar a assistência nutricional no hospital em que trabalhávamos;

- da consciência que eu tinha da deficiência quantitativa no quadro de profissionais em Equipes Multiprofissionais de Terapia Nutricional (EMTNs), e especialmente de nutricionistas atuando nas áreas clínicas de meu hospital e de quase todos os outros;

- da necessidade, então, de os médicos que internam pacientes reconhecerem a importância do assunto e saberem aplicar pelo menos o básico;

- do temor de que as EMNTs não viriam a dar conta da demanda, quando não fragmentando ainda mais a assistência hospitalar e até dificultando o aprendizado em nutrição clínica e terapia nutricional dos médicos, já prejudicados pela lacuna de formação na graduação. Eu temia ainda que a obrigatoriedade da existência de EMTN juntamente com a possibilidade de terceirização das mesmas poderia trazer apenas assistência nutricional de faz de conta, onde alguns iriam montar EMTN's e vender seus serviços para hospitais apenas para cumprir a portaria, sem intenção real de introduzir melhorias nas organizações e sem interação produtiva com os profissionais da linha de frente. Nem todo mundo é como o mestre João Wilney.



Passados quase 6 anos, Wilney se tornou um profissional quase dedicado a terapia nutricional, e outros surgiram. Mas, infelizmente, a realidade para a maioria dos pacientes hospitalizados não mudou. 

Entendo perfeitamente a necessidade da sub-especialização nesta área, mas também que, diferente de muitas outras, deveria a Sociedade Brasileira de Terapia Parenteral e Enteral e suas regionais reservar maior tempo para parcerias com outras especialidades médicas, principalmente as generalistas, objetivando garantir também a educação mínima de clínicos e cirurgiões gerais, reservando sua atuação especial (inclusive com reserva de mercado) para "a ponta do iceberg". Complicado para eles seria viabilizar e financiar esta atividade, pois dependeriam de mecanismos para inclusive driblar a falta de adesão voluntária. Enquanto isto, segue o esqueleto no armário do hospital.

Um comentário:

  1. muitíssimo bem observado, já pensei em fazer um inquérito no pompéia mas à época o serviço de nutrição não contava com todas as pernas necessárias... talvez eu revisite o tema
    abraço

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