O título da postagem é o título de uma tese de mestrado sobre o tema e que pode ser conhecida na íntegra aqui.
O autor falando um pouco de sua motivação para o trabalho: "Um bom exemplo aconteceu no final dos anos 90, com uma revista que eu editava para uma grande empresa farmacêutica com atuação na Endocrinologia. Numa das edições, o gerente de produto responsável pelo projeto exigiu que mudássemos parte da afirmação de um notável especialista que concedeu uma entrevista sobre o lançamento iminente de uma nova droga utilizada no tratamento da obesidade. No trecho da discórdia, o entrevistado referiu-se à necessidade de estudos complementares para conhecer melhor a eficácia e, sobretudo, os efeitos colaterais do novo medicamento. Preocupada, a empresa sugeriu que minimizássemos as declarações sob o argumento de que todos os estudos haviam sido feitos e que o medicamento era seguro. A opinião do médico acabou prevalecendo, o que era raro, porém, a revista deixou de ser publicada poucos meses depois".
Introdução: "No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) recentemente se posicionou a respeito na Resolução 1.772, em que oficializa a recertificação a cada cinco anos por meio de avaliação ou da comprovação do acúmulo de créditos. Pesquisa recente do Conselho Federal de Medicina realizada com 14.405 médicos em todo o Brasil revelou que a freqüência a estes eventos aumentou 13% nos últimos 10 anos. Ora, se para manter-se competente ao longo do tempo é necessário atualizar continuamente os conhecimentos e as práticas, o médico se revela consumidor ideal de “pacotes de educação continuada” que lhe sejam entregues em formato prático e eficiente, como os congressos".
Questionamentos do autor: "Em que se pesem discussões sobre o formato, duração, conteúdo, localização e tamanho dos eventos científicos, sempre haverá o questionamento sobre os custos de sua organização: é possível economizar?"; "Seria possível organizar congressos de especialidades e outras atividades para educação médica continuada sem o auxílio financeiro da indústria?"
Resultados: "Um dado importante é com relação à interferência das empresas na elaboração dos projetos: os relatos não deixam dúvidas de que elas não tiveram ingerência na definição do conteúdo científico dos materiais que foram desenvolvidos. A parceria ficou restrita aos aspectos comerciais. Esse é um achado importante porque refuta a afirmação de que as empresas influenciam a pauta científica das instituições de pesquisa".
"Há que se considerar que os conflitos de interesse descritos na literatura ocorrem, em sua maior parte, durante eventos de grandes proporções como estes. Os entrevistados não relataram qualquer conflito entre as entidades e seus parceiros comerciais, mas admitem a possibilidade de existirem na relação direta entre o médico e a empresa".
"A ética foi o instrumento mais evocado como parâmetro para o bom comportamento, com a recomendação de que os interesses de ambas as partes devem ser revelados".
"Neste quesito [receitas a partir de inscrições] a única exceção foi no Congresso Brasileiro de Clínica Médica, onde as inscrições totalizam a maior fatia das receitas, mas o percentual não foi informado. Outro detalhe importante é a relação entre as receitas e as despesas destes eventos: a SBOT é a única sociedade que auferiu lucro com seu congresso brasileiro, a julgar pelas cifras informadas. Nos congressos da Febrasgo e SBCM houve equidade entre receitas e despesas".
Discussão: "Os maiores problemas no relacionamento entre a classe médica e os laboratórios farmacêuticos sempre estiveram relacionados à falta de transparência, que afeta a credibilidade e minimiza a importância das ações da indústria, e à dúvida sobre se o apoio financeiro das empresas influencia ou não a agenda das sociedades médicas".
"Apesar de as sociedades médicas pesquisadas negarem a existência de conflitos de interesse entre si e as empresas que patrocinam projetos de educação continuada e eventos científicos, admitem a possibilidade de haver deslizes éticos na relação individual do médico com a empresa. A intensificação dos debates poderá levar as entidades a adotarem uma postura mais coerente, deixando de se eximir integralmente da responsabilidade por eventuais desvios de conduta de seus associados, como ocorre atualmente".
Leia na íntegra. Ao final, entrevistas com os presidentes das sociedades médicas envolvidas no estudo.
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