Os debates sobre a saúde brasileira intensificaram-se nos últimos meses. Todos os meios de comunicação têm, exaustivamente, colocado a disposição da população números, opiniões e estudos na tentativa de encontrar explicações e, até mesmo, soluções para os problemas, cada vez mais evidentes do nosso sistema de saúde, seja público ou suplementar.
Fontes de financiamento insuficientes, gastos assistenciais galopantes, má distribuição de médicos pelo país, ausência de um plano de carreira para os profissionais da saúde, estruturas de atendimento deficitárias, judicialização do setor e excesso de regulamentação, são alguns dos problemas mais evidentes.
Será de grande valia focarmos nos debates para questões estruturais como a formação médica. A maioria absoluta das escolas de Medicina do Brasil é alicerçada no modelo flexneriano, que data de 1910. Voltado para a formação de superespecialistas, centrado nas doenças, nos hospitais e na incorporação acrítica de novas tecnologias, trouxe grande contribuição para a evolução da Medicina ao sistematizar o ensino médico dentro de preceitos científicos, mas, paradoxalmente, afastou os médicos da abordagem preventiva, psicossocial e econômica da saúde, e de uma compreensão mais holística do homem, essenciais para o exercício da Medicina, também, como arte. Este modelo contribuiu, ainda, para a concentração dos médicos nas grandes cidades.
Outro aspecto que precisa de abordagem profunda é a crescente influência das indústrias farmacêuticas e de equipamentos na prática médica. Se por um lado promovem melhores tratamentos e aumentam a expectativa de vida da população, por outro, induzem profissionais e pacientes ao consumo de medicamentos e exames, nem sempre necessários, para alimentar um mercado mundial que movimenta mais de US$ 210 bilhões/ano. Uma verdadeira mercantilização da vida que tem levado à expansão dos gastos com a saúde da população a níveis preocupantes, muito acima do crescimento econômico mundial. Equalizar essas situações é um dos grandes desafios das políticas públicas atualmente.
O Brasil é um dos países com maior número de tomógrafos, ultrassons e ressonâncias do mundo, onde cerca de 70% dos exames são praticamente desnecessários, movimentando mais de US$ 3 bilhões/ano.
São inúmeros os estudos que demonstram risco iminente de colapso na saúde, em países que adotam esse modelo assistencial, que, além de ser insustentável economicamente, trouxe um desgaste sem precedentes na relação médico-paciente. Assim, acreditamos num modelo assistencial voltado para uma visão mais humanista da saúde, focada na formação de mais médicos generalistas; em ações voltadas para a prevenção e a promoção da saúde; em políticas públicas capazes de fixar os médicos no interior do Brasil e que destinem maior orçamento para o setor; e no uso racional de novas tecnologias e terapias em prol da vida e não como mecanismos de incremento das desigualdades.
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