Desde minha residência de Clínica Médica, iniciada em 2001, luto por tornar conhecido em nosso meio o modelo de Hospital Medicine. Após tê-lo vivenciado na prática, passei a enxergá-lo como a luz no final do túnel para a medicina generalista no Brasil, e como solução parcial para o nosso sistema. Sem falsa modéstia, estive até o momento em frente a todas as principais iniciativas de promoção de hospitalistas por aqui.
A SOBRAMH (Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar) é parte importante deste processo, surgida não como semente, mas já como fruto de um longo trabalho. 2008 foi um dos marcos do movimento de MH brasileiro até o momento, com o I Congresso Brasileiro de Medicina Hospitalar, então organizado pelo Grupo de Estudos e Atualização em Medicina Hospitalar e o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul. O evento contou com cerca de 600 participantes. Cabe lembrar que quatro dos atuais sete diretores sequer estiveram neste encontro, o que caracteriza o quão incipiente ainda é a MH brasileira como movimento organizado. O número foi ainda menor naquele que foi o primeiro evento no Brasil sobre hospitalistas.
Hoje não reconheço mais na SOBRAMH o conceito de hospitalista que um dia pretendi promover. Apenas para citar um exemplo, algumas críticas registradas neste Blog sobre “adaptações do modelo para a realidade brasileira” se baseiam em cópias literais de conteúdos de propriedade intelectual do atual presidente ou de colaboradores diretos. Lamento não ter conhecido integralmente estes posicionamentos antes, pois nesse caso não teria colaborado fortemente na organização de sua chapa. É claro que existem diretores que mantêm o mesmo ideal original de MH para o Brasil, e são maioria inclusive. Mas fica nítida a dificuldade deles em ter voz ativa. Corrigido isto, reconsiderarei meu posicionamento.
Curiosamente, a divergência nasce lastreada em diferentes visões de mundo: de um lado, um clínico que gosta de qualidade e segurança e, de outro, um cirurgião e gestor médico com igual interesse - justamente o tipo de aliança que o modelo deveria promover. Em minha concepção, poderíamos divergir sobre a importância maior ou menor da Acreditação Hospitalar, dos Times de Resposta Rápida ou da necessidade ou não de uma política bem discutida, e constantemente revisada, de relacionamento com terceiros pela associação (sejam farmacêuticas ou até mesmo o governo brasileiro). Mas jamais poderíamos divergir sobre qual Medicina Hospitalar queremos para o Brasil – ou pelo menos eu não estou preparado para isto: o que chamam de adaptação é tão original como o movimento de médicos hospitalistas norte-americano, é o que fazem os midlevel providers lá. Só que aqui estão usando de colegas como tal. Além do que entendo que muitas destas questões deveriam, em se tratando de uma associação, ser discutidas com transparência entre todos os membros, e não depender da visão de mundo de um ou outro no alto do poder.
Por fim, questiono o tipo de destaque que parece querer ser dado à instituição (dos novos "líderes") em detrimento de outras. Parece estar sendo orquestrado um movimento para dar distinção especial a quem sequer tinha hospitalistas até final de 2010 (e eu conferi isto com meus próprios olhos, embora não tenha dado importância maior naquele momento. Muitos de nós estávamos simplesmente tentando - eu próprio, que havia conseguido resultados positivos "à distância", não tive sucesso em ver implantado um programa de MH em meu hospital de origem). Do jeito que está, literalmente fabricam um benchmarking que não existe, criam até um selo a partir dele, tudo em detrimento de locais onde verdadeiramente se vinha buscando aproximação com o modelo, e não são poucos, por mais dificuldades que tenham com qualidade e segurança, o que, insisto, são coisas diferentes. Tudo isto deixa evidente a confusão criada entre os interesses do movimento de MH e os interesses privados de alguns, sejam eles legítimos ou não.
Nessas condições, não tenho outra alternativa senão tornar público meu afastamento da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar e desejar que o caminho escolhido seja o que melhor representa os anseios dos atuais e futuros hospitalistas do Brasil. Aos colegas que enxergavam na proposta original a melhor alternativa, sorte. Ao menos na nossa perspectiva. O equilíbrio nos serve. Ou procuremos alternativa.
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