sexta-feira, 6 de setembro de 2019

Textículo sobre O Futuro da Clínica Médica no Brasil teve alcance diferenciado!


Houve grande número de visualizações, comparando-se a outras postagens minhas. Não sei se tocou um número significativo de generalistas que venha a compor algum movimento melhor do que existente hoje. Somos poucos na luta que represento, e desarticulados ainda.

Na mesma noite da publicação, recebi convite para compor mesa com título homônimo, no 15o Congresso Brasileiro de Clínica Médica. Não está na programação do congresso, de acordo com o site oficial, até a postagem desse texto, o que me faz pensar que a ideia surgiu da minha provocação. Participaria da mesa ainda, conforme mensagem enviada, o presidente da SBCM, ACL.

Pensei, pensei, pensei... Convites assim sempre tocam os médicos e não foi diferente comigo... Pensei muito... Balancei algumas vezes - a vaidade que todos possuímos, em maior ou menor grau, reforçou o convite... Ao cabo, decidi declinar. E explico porquê:

Acredito que a SBCM é parte importante do problema! Não foi o caso de fugir do debate - amarelar, como se diz por aí. Mas interpretei que não era esse o tipo de posicionamento esperado por quem fez o honroso convite, na melhor das intenções. Um convite de alguém para que eu visitasse sua própria casa, representada pela regional de organiza o evento, além da própria SBCM. Então, eu não faria nenhuma supresa, por educação e respeito. Ao mesmo tempo, não seria eu mesmo se não aprofundasse todos os elementos que entendo como mais relevantes para a crise da especialidade no Brasil.

No meu texto original, uma das questões principais que tentei trazer refere-se a total indefinição entre o papel das especialidades clínicas no Brasil (em outras palavras, falta de organização sistêmica, de hierarquização do trabalho médico, de um modelo de assistência). Ocorre diferente em vários países cujos indicadores de saúde são melhores que os nossos! Aí olhamos para nosso representante maior na Clínica Médica e...


não sabemos se

é generalista 

ou cardiologista! 😏




O problema é que minha colocação remete a um viés de confirmação reverso. ACL provavelmente for muito bom nas duas frentes, e segue defendendo-se bem no mercado dessa forma. Possui uma mente brilhante! Conversando com amigo "clínico geral" e bastante destacado também, ele justificou que faz, e bem, Clínica Médica Ambulatorial e Hospitalar - como contraponto ao "meu hospitalista" e ao isso ou aquilo como foco principal. Vejo como absolutamente humano nos vermos assim, mas a soma de nossas auto-imagens não pode contrariar fatos. Então aproveitei para dar uma quebrada no assunto, e dizer que tinha dúvidas sobre algumas questões que envolviam a saúde dos meus pais. Perguntei sobre vacinações necessárias como idosos que são, além de aconselhamento genético e recomendações como futuros viajantes internacionais. E ficou evidente que não tinha na ponta da língua. É verdade também que é possível estudar entre as consultas, mas será que dá para apostar nisso para o varejo, da forma como estamos cada vez mais e mais ocupados, bombardeados por um mar de informação que só aumenta?

Eis que o colega perguntou-me: "Mas você faz clínica médica, intensivismo e qualidade/segurança...". Humildemente reconheço que os anos de dedicação à Medicina Hospitalista tornaram-me um intensivista menor do que meu potencial permitiria. A meu favor, e trabalhando como intensivista em local sempre cercado de muita gente capacitadíssima, destaco o fato de não apresentar dificuldades em pedir ajuda. Ajuda que sequer existe à disposição em tantos outros cenários.

Portugal, no SNS, organizou-se diferente na assistência generalista ambulatorial e hospitalar. Internistas estão nos hospitais. Médicos da família nos ambulatórios. A relação é de parceria, e estão juntos nos congressos uns dos outros. Há áreas de intersecções, como através de consultoria, presencial ou à distância - cruzam fronteiras, mas com foco no paciente, não em ganhos por produção. Será que não chegou a hora de chamarmos os médicos de família brasileiros para uma parceria estratégica?

Vou mais longe, penso estar indicada uma aproximação entre especialidades generalistas em geral, como MFC e Geriatria. Nos hospitais, com as outras duas que definem-se por território, não órgão ou sistema. São elas Medicina Intensiva e Medicina de Emergência. Precisamos parar de competir com elas e elas conosco. Vejo possibilidades concretas de ganhos para todos nós. Há que se consolidar intensivistas, emergencistas e internistas hospitalares como a espinha dorsal dos hospitais brasileiros, com os especialistas focais na função de pareceristas importantes. Devemos nos juntar para convencer os convênios. Devemos juntos revisar RDC's e incorporar os internistas às unidades intermediárias (quem sabe com um treinamento oferecido pela AMIB), quem sabe às próprias UTI's nas noites, com mecanismos de retaguarda amparados por intensivistas titulados. E juntos costurar parcerias estratégicas também com as especialidades focais.

A complexidade de vida e da medicina moderna traz naturalmente a necessidade de conexões entre domínios.
A partir de agora, nenhuma chave-mestra sozinha abrirá todas as portas.
A Clínica Médica, para sobreviver e prosperar, precisará aprender a interagir, a construir pontes!
Em paralelo, deve convencer as fontes pagadoras do seu lugar no sistema.


Por fim, precisa a SBCM comprar a ideia de "Making Room for a New Generation of Medical Learders". É tudo que não fez nos últimos anos!!! Precisamos também repensar o evento bianual para que reúna progressivamente mais clínicos ativos e menos estudantes, que sequer fidelizamos a partir dos evento em si.
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