Em entidade que criei (e já tenho quase vergonha de ter criado), desenvolveram um selo de qualidade e deram pioneiramente para o hospital do próprio diretor. Tomara que tenha entendido mal. Ou tanto faz também, uma vez que já estou em projetos em que pensam e atuam diferente.
Segue abaixo a proposta que recebemos e a resposta de um dos coordenadores adjuntos da CWB. Ele sequer precisou me consultar, pois já temos um norte claro e critérios bem definidos sobre os cenários em que dispensamos prestígio ou dinheiro:
Proposta recebida:
"Nossa empresa forneceria o curso para todos os médicos interessados, aplicaríamos uma prova e analisaríamos dados para verificar se os médicos estão alinhados com a filosofia do Choosing Wisely. Esses médicos receberiam um selo, e, com isso, venderíamos esse serviço de várias formas, em parceria com vocês."Resposta:
"Obrigado pelas palavras. Reconheço sua boa intenção, mas infelizmente a proposta não se alinha à nossa visão. O Choosing Wisely Brasil não apoia a criação de ‘selos de qualidade’. Tenho dúvidas se um curso, seguido de prova e certificação de ‘sabedoria’, seria o caminho mais apropriado. Acredito que o foco deve ser uma mudança cultural progressiva, sistêmica e coletiva. Fico à disposição para conversarmos melhor."
Esse episódio do selo deles, no entanto, apenas ilustra movimentos que foram cíclicos ao longo desse já longo movimento. Nunca esqueço de uma gestão bem anterior em que um membro da diretoria realizou evento no seu hospital, de São Paulo, deflagrando uma série de tentativas de alçar a instituição como "the grande destaque nacional". Curiosamente, sequer havia hospitalistas naquele local — apenas um TRR, tratado quase como "móveis e utensílios".
Já em 2011, escrevi aqui no blog sobre a importância de "se necessário, destacar o trabalho do vizinho, em vez do nosso." É um exercício difícil, sem dúvida. Agora, pergunto-me: qual é, afinal, a diferença desse programa especialmente diferenciado para tantas outras boas iniciativas de MH espalhadas pelo Brasil? Talvez apenas o fato de serem "amigos dos reis", ou a própria corte.