domingo, 27 de janeiro de 2013

What Will the Great Physician of the Future Look Like: Intended and Unintended Consequences?

Pular direto para 7:17, é onde começa
  




Fui conhecer Bob Wachter e sua instituição (UCSF) nos primórdios do movimento brasileiro de Medicina Hospitalar, quando nada de concreto ainda havia por aqui. Não preciso dizer então como o admiro e a sua visão de mundo e da Medicina. Sou suspeito para falar, mas é mais uma baita apresentação dele.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O esqueleto no armário do hospital

O tempo passa! Há quase seis anos organizei este curso de Nutrição Hospitalar, em parceria com pessoal da Associação Gaúcha de Nutrição Parenteral e Enteral, para educação presencial de médicos residentes e estudantes de Medicina de Porto Alegre:

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Desnutrição Hospitalar: Estamos dando a atenção necessária?
Maria Cristina Gonzales Barbosa e Silva (42 minutos)

Avaliação Nutricional do Paciente Hospitalizado
Maria Cristina (25 minutos)



Nutrição Básica no Ambiente Hospitalar: Necessidades e Recomendações
João Wilney Franco Filho (22 minutos)

Uma Visão Prática da Nutrição Enteral para o Médico Hospitalista
Maria Cristina (35 minutos)

Encefalopatia Hepática: Existem Evidências para Restrição Protéica Sistemática?
Enrique Saldaña (11 minutos)

Obesidade: Mitos e Verdades no Paciente Hospitalizado
João Wilney (25 minutos)

Terapia Nutricional na Pancreatite Aguda
Enrique Saldaña (13 minutos)

Nutrição no Perioperatório
Sérgio Henrique Loss (33 minutos)

Terapia Nutricional na Insuficiência Renal Aguda
João Wilney (25 minutos)

Abordagem do Paciente Caquético - Ênfase em Cancer e AIDS
Enrique Saldaña (16 minutos)

Fístulas Entéricas: Abordagem Nutricional
João Wilney (22 minutos)

Se já mudou alguma por força de novas evidências, quisera ao menos este conhecimento acima fosse de domínio de quem maneja pacientes hospitalizados hoje.

A desnutrição em pacientes hospitalizados era para ser um tema valorizado...

Há quase 40 anos, existem evidências consistentes dos problemas - a desnutrição hospitalar em si e a sua subvalorização. O estudo Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional (IBRANUTRI), realizado em 1996, demonstrou que aproximadamente 48% da população hospitalizada, representada por 4000 casos estudados, apresentava algum tipo de desnutrição, sendo 12,6% desnutridos graves. Em sequência ao IBRANUTRI, o Estudo Latino-Americano de Nutrição (ELAN), de 2003, incluindo Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Cuba, México, Panamá, Peru, Paraguai, República Dominicana, Venezuela e Uruguai, demonstrou que aproximadamente 50% da população hospitalizada, numa amostra de 9233 pacientes estudados, apresentava algum tipo de desnutrição. E já sabemos há algum tempo também que o impacto disto é perverso. 

Um clássico intitulado O esqueleto no armário do hospital mostrou já na década de 70 a prevalência elevada da desnutrição hospitalar, e destacou a falta de atitude dos profissionais de saúde em relação ao problema (BUTTERWORTH et al.,1974). Posteriormente, o mesmo autor publicou outro artigo cujo título foi O esqueleto no armário do hospital – 20 anos depois, em que ele destaca que apesar de transcorridos tantos anos, a situação nos hospitais permanecia inalterada (BUTTERWORTH et al.,1994). Resultados semelhantes foram publicados por outros autores, sempre salientando o desconhecimento, o desinteresse e a apatia dos profissionais de saúde em relação ao tema.

Minha motivação na época vinha:

- da admiração por João Wilney Franco Filho buscando melhorar a assistência nutricional no hospital em que trabalhávamos;

- da consciência que eu tinha da deficiência quantitativa no quadro de profissionais em Equipes Multiprofissionais de Terapia Nutricional (EMTNs), e especialmente de nutricionistas atuando nas áreas clínicas de meu hospital e de quase todos os outros;

- da necessidade, então, de os médicos que internam pacientes reconhecerem a importância do assunto e saberem aplicar pelo menos o básico;

- do temor de que as EMNTs não viriam a dar conta da demanda, quando não fragmentando ainda mais a assistência hospitalar e até dificultando o aprendizado em nutrição clínica e terapia nutricional dos médicos, já prejudicados pela lacuna de formação na graduação. Eu temia ainda que a obrigatoriedade da existência de EMTN juntamente com a possibilidade de terceirização das mesmas poderia trazer apenas assistência nutricional de faz de conta, onde alguns iriam montar EMTN's e vender seus serviços para hospitais apenas para cumprir a portaria, sem intenção real de introduzir melhorias nas organizações e sem interação produtiva com os profissionais da linha de frente. Nem todo mundo é como o mestre João Wilney.



Passados quase 6 anos, Wilney se tornou um profissional quase dedicado a terapia nutricional, e outros surgiram. Mas, infelizmente, a realidade para a maioria dos pacientes hospitalizados não mudou. 

Entendo perfeitamente a necessidade da sub-especialização nesta área, mas também que, diferente de muitas outras, deveria a Sociedade Brasileira de Terapia Parenteral e Enteral e suas regionais reservar maior tempo para parcerias com outras especialidades médicas, principalmente as generalistas, objetivando garantir também a educação mínima de clínicos e cirurgiões gerais, reservando sua atuação especial (inclusive com reserva de mercado) para "a ponta do iceberg". Complicado para eles seria viabilizar e financiar esta atividade, pois dependeriam de mecanismos para inclusive driblar a falta de adesão voluntária. Enquanto isto, segue o esqueleto no armário do hospital.

Uma falta e várias falhas

por Alfredo Guarischi, médico, Câmara Técnica de Oncologia do CREMERJ

Bairro Piedade, pouco depois da chegada do dia de Natal de 2012, uma criança de 10 anos foi baleada na cabeça. Foi levada para um hospital no Méier, que não fica longe. Aguardou longas oito horas até ser operada. Um dia depois foi transferida para outro hospital, também não distante. Teve a morte cerebral diagnosticada no quinto dia de pós-operatório.

Virou manchete: “uma sucessão de erros ou omissões podem ter agravado o estado de saúde da menina...”. Na página seguinte está o obituário de Dona Canô, de 105 anos, mãe de Caetano Veloso, Maria Betânia e outros tantos filhos. Não quis morrer num hospital, preferindo ficar em casa junto da família.

Na Guerra da Coréia, os feridos eram atendidos pelo Mobile Army Surgical Hospital - MASH. No Vietnam, transferir para um hospital equipado, com o uso de helicópteros, foi mais eficiente. No Afeganistão, a teleconferência foi incorporada. Aprendemos com as guerras, e na última olimpíada a tecnologia permitiu debates entre médicos em Londres e no Rio. Por um momento viramos primeiro mundo.

Os jogos acabaram, continuamos numa cidade partida, em guerra urbana e sem um sistema de saúde integrado. Não sei qual a gravidade da lesão provocada por essa bala perdida ou se o atraso na cirurgia mudaria o desfecho. Pouco importa, pois no Méier não houve nem a abominável escolha de Sofia, obrigada pelo nazismo a escolher um dos filhos para mandar para a morte em Auschwitz, ou perder os dois. Pai, mãe e uma criança, indefesos, não tiveram escolha, exceto aguardar diante de um sistema paralisado.

Acidentes não decorrem do acaso ou falta de sorte. Não existe acidente sem precedente e nenhum acidente tem uma única causa. Toda investigação deve buscar criar mecanismos de prevenção. Com esta ótica, busca-se entender a dinâmica dos fatos e como poderia haver outro desfecho.

O especialista faltara anteriormente. O que aconteceu? Com a proximidade do final do ano foi estabelecido algum plano alternativo? Até então tudo parecia bem, mas desta vez ocorreu uma tragédia que virou manchete de jornal.

Agora imaginemos a situação na qual estivesse operando outro paciente. Interromperia essa cirurgia? Alguém deveria remover a nova paciente para outro hospital? O chefe do serviço ou a direção do hospital poderiam ser contatados para ajudar na decisão?

As situações de emergência não são planejadas, mas previstas. Ocorrendo, o sistema deve estar preparado para identificar o problema, estabelecer as prioridades e agir. Faltas em serviços essenciais são indesejáveis, mas não impossíveis de ocorrer.

O treinamento em ATLS - Suporte Avançado de Suporte a Vida, ministrado em três dias, ensina as principais situações de emergência. Deste modo o não especialista aprende a reconhecer a gravidade do caso e atuar de modo a não piorar o que já está ruim. Quantos têm este treinamento em nossas emergências?

Todos os sistemas criam barreiras para evitar acidentes, mas estas muitas vezes apresentam imperfeições - buracos pequenos ou grandes. Naquela noite, os buracos, como de um queijo suíço, se alinharam permitindo ocorrer a tragédia. Novamente ocorreram falhas não só na ponta, mas no meio e no topo. As dificuldades do sistema de saúde não são recentes. É importante entender a dinâmica da situação de quando, onde, como e por que estes humanos falharam. Haverá uma próxima vez, não igual, mas semelhante, no público ou no privado. Devemos seguir o exemplo da aviação e da indústria nuclear, que têm buscado, em suas tragédias, uma fonte de aprendizado.

Existe um esforço das autoridades para melhorias na saúde, mas que não tem sido suficiente ou eficiente. Instituir o ponto biométrico pode punir a falta, mas não vai evitar suas consequências - o dano ou a morte. O Rio ainda continua distante de Londres. O sistema ficou paralisado – congelou – e acabou não tendo piedade dessa criança.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O mito da falta de tempo

Talvez o que de mais interessante o movimento de Medicina Hospitalar tenha me proporcionado não seja o reconhecimento ou as conquistas pessoais, por mais importantes que sejam, e por mais que possam ter sido o meu principal combustível, mesmo que inconscientemente. Interessante mesmo foi aprender sobre o comportamento e as motivações humanas. Escrevi recentemente sobre isto em ...os laços que nos unem... , e como a regra é tentar se beneficiar, buscando sempre uma boa relação entre isso e manter-se em zona de conforto. Fez e continua fazendo com que o jogo [contraproducente] de poder tenha sido e siga forte. Recentemente, na composição da RBMH, houve a aproximação de outro colega que possui empresa que faz intermediação de trabalho médico-hospitalar. Escreveu longo texto, destacando qualidades minhas (nem au sabia que tinha tantas) e as utilizando como justificativa para "apoio incondicional". Como havíamos definido previamente que hospitalistas (eles próprios, e não através de representantes) assumiriam o protagonismo no novo formato, respondi solicitando que encaminhasse nomes de profissionais da linha de frente do seu grupo para participar. Como não seria ele próprio apenas (e apesar de concomitante forte discussão de como valorizar a todos na Rede, em especial gestores), desapareceu depois de anunciar "novos compromissos" e "falta de tempo".

Têm a nos ensinar muito tanto os que buscaram tirar o máximo proveito, com o menor esforço ou sob perspectivas muito individuais, quanto as pessoas que ignoraram a regra, "pulando para fora do balde" e destacando-se positivamente.

Exemplo positivo vem do Tiago Daltoé, por exemplo. É hospitalista, coordenador de grupo em Caxias do Sul, médico competente e bem sucedido. Tendo sido um dos que mais me ajudaram no que até hoje representa quase todos os esforços para promover a MH no Brasil, nunca pediu cargos ou outros espaços e benefícios. Diferente de muitos, soube ser assertivo ao frizar com clareza em que momentos ou circunstâncias seria possível contar com ele ou não. E muitas vezes também disse não. Mas nunca usou comigo a desculpa da falta de tempo - tão comum, e ainda muito utilizada ao final, e não no ponto de partida, como pelo menos deveria ser.

A falta de tempo é uma das desculpas mais usadas em todos os cenários. E verdade é que a falta de tempo é mais uma consequência do que um problema. A consequência de ter outras prioridades. Da falta de foco. Da falta de eficiência. Ou da falta de verdade.

Daltoé trabalha horrores como médico, tempo sobrando não possui. Tem ainda uma ampla rede social e sabe cultivá-la. Possui um blog sobre culinária super ativo (isto mesmo, culinária). E ainda organiza carnaval. Com Grazi, sua esposa, é um dos principais responsáveis pelo Bloco da Velha, participando das reuniões de organização à festa propriamente dita.



No ano passado, o Bloco reuniu aproximadamente 300 pessoas. Os foliões foram acompanhados por um trio elétrico, com os músicos caxienses intitulados Fujimo dos Pavilhon entoando marchinhas e sambas-enredos.

A falta de tempo é um mito, no mínimo por ser sempre relativa. E nada relativo é o fato de que quando é possível unir o útil ao agradável, as chances de sucesso aumentam uma barbaridade. Ou, pelo menos, quando o trabalho, no seu sentido mais amplo, é prazer, a vida se torna uma grande alegria.

É isto, não foi a toa: Daltoé ajudou a transformar a MH em samba! Quem serão os seguidores?

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

em resposta a minha postagem sobre Shift Work Disorder

Amigo,

Li seu artigo e gostei. Na aviação civil o uso destes medicamentos é absolutamente proibido para os tripulantes em voo. Ou seja, você pode medicar alguém para mantê-lo acordado ou para fazê-lo dormir, mas este alguém não poderá trabalhar neste período.

Ou seja, você não poderia ter avaliado o artigo sobre a Shift Work Disorder logo após seu plantão, seria OBRIGADO a dormir para se recuperar para o outro plantão.

De qualquer forma, jornadas de trabalho que ultrapassam os limites do ciclo circadiano, tal como nos foi ensinado pelos Médicos de Aviação, são proibidas por lei (Lei do Aeronauta), justamente por serem muito perigosas.

Na aviação militar isto é diferente. Para maximizar o poder aéreo, aviadores militares SÃO medicados da forma como seu artigo descreve. Decolam dos EUA, atravessam metade do Globo Terrestre, soltam bombas guiadas a Laser no Oriente Médio, e retornam, sempre realizando procedimentos de reabastecimento em voo, na ida e na volta. Para a Aviação Militar a segurança é apenas mais um dos meios para se garantir o cumprimento continuado da Missão. Para isso, as perdas são mais do que previstas, são calculadas.

Abraços,

Felipe Koeller R. Vieira
Revista Conexão SIPAER
A publicação científica de segurança de voo

Avaliando o que escreve Felipe e fazendo breve comparação histórica se utilizando da imagem abaixo, percebe-se que a aviação já ultrapassou o que estamos vivenciando e discutindo na saúde...


sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Hospitalists are ...

Fora daqui ocorre o mesmo: distorções do que vem a ser um hospitalista. Pois há a mesma tendência (mais segmentada) de depreciarem o valor do hospitalista generalista, o desviando do verdadeiro foco. Em meio a este debate, uma tentativa bem feliz de tentar resumir o conceito principal ao máximo: "[Hospitalists] are the person responsible for a person, start to finish..." (Today's Hospitalist 2013).

E como persiste a confusão, segue outro vídeo não tão recente sobre o modelo, nas palavras de quem cunhou o termo hospitalist:

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Acreditação Hospitalar: É tudo isto ou Photoshop?

Em novembro, eu havia inserido este vídeo com a seguinte provocação: Não duvido que estes hospitais privados anunciem possuir Programa Cirurgias Seguras Salvam Vidas e fazer Time-out...



Pois este desdobramento da matéria (abaixo) me fez ir na página de instituição envolvida, e, sim, anunciam possuir Programa Cirurgias Seguras Salvam Vidas e fazer Time-out...



O site do hospital informa:

Procurando sempre a excelência, em 2010 o hospital começou a trabalhar com o Protocolo da Cirurgia Segura e desde então, muitas cirurgias foram feitas. Com o crescimento das equipes e incorporação de novos profissionais, habitualmente são realizados cursos de reciclagem e treinamentos com todos os profissionais envolvidos. O benefício é de todos: profissionais médicos, que terão mais tranquilidade durante os atos cirúrgicos, pacientes que terão mais segurança e a própria sociedade, que terá mais qualidade assistencial. Convidamos todos a participar deste protocolo. Todos por Amor à Vida.

E vai além...

Foi o primeiro hospital da América Latina a receber a certificação ISO 9001:2000, tendo sido recertificado no primeiro semestre de 2010 pela última versão do selo de qualidade respeitado internacionalmente, a 9001:2008. O reconhecimento resulta de anos de investimentos: desde 1998 a instituição trabalha incansavelmente na implementação de processos que primem pela excelência. Os gestores seguiram depositando recursos e muita energia na Qualidade e alcançaram, em 2003, a Acreditação Plena - Nível II, concedida pelo Ministério da Saúde/ONA. Mais uma vez largou na frente, conquistando em 2006 o Nível III de Certificação da ONA e o principal de todos, a Acreditação com Excelência, tornando-se o primeiro hospital do Brasil a figurar no ranking da ONA. Na prática, uma instituição hospitalar que opta por adotar sistemas de qualidade tem, entre seus principais objetivos, a oferta de segurança e assistência de elevado padrão. Isso porque cada um dos modelos – seja a ISO, a Acreditação ou o PNQ – determina o foco no cliente, a visão de mercado, prevê a padronização de todos os processos, a mensuração de indicadores e a realização de melhorias contínuas. O Hospital é submetido a auditorias periódicas, por entidades independentes, que visam avaliar se aquilo que está escrito no documento da Qualidade realmente ocorre.

Trazendo forte o discurso da humanização:
A humanização na assistência compreende um olhar integral para o paciente, ou seja, com atenção às suas necessidades físicas, emocionais, sociais e espirituais. Concebemos cada serviço considerando essa premissa. Tornamos a humanização tangível, desde a arquitetura das unidades até a definição dos processos de atendimento.

Devemos usar disto para gerar debates e melhorias, e fazer da Acreditação algo ainda melhor do que é. Por se tratar de algo bom e necessário, só tem a fugir desta discussão quem no fundo não gosta da Acreditação como na sua base teórica, e dos benefícios inequívocos que o processo traz.

Leia também: Acreditação Hospitalar: É tudo isto ou Photoshop?