quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O mito da falta de tempo

Talvez o que de mais interessante o movimento de Medicina Hospitalar tenha me proporcionado não seja o reconhecimento ou as conquistas pessoais, por mais importantes que sejam, e por mais que possam ter sido o meu principal combustível, mesmo que inconscientemente. Interessante mesmo foi aprender sobre o comportamento e as motivações humanas. Escrevi recentemente sobre isto em ...os laços que nos unem... , e como a regra é tentar se beneficiar, buscando sempre uma boa relação entre isso e manter-se em zona de conforto. Fez e continua fazendo com que o jogo [contraproducente] de poder tenha sido e siga forte. Recentemente, na composição da RBMH, houve a aproximação de outro colega que possui empresa que faz intermediação de trabalho médico-hospitalar. Escreveu longo texto, destacando qualidades minhas (nem au sabia que tinha tantas) e as utilizando como justificativa para "apoio incondicional". Como havíamos definido previamente que hospitalistas (eles próprios, e não através de representantes) assumiriam o protagonismo no novo formato, respondi solicitando que encaminhasse nomes de profissionais da linha de frente do seu grupo para participar. Como não seria ele próprio apenas (e apesar de concomitante forte discussão de como valorizar a todos na Rede, em especial gestores), desapareceu depois de anunciar "novos compromissos" e "falta de tempo".

Têm a nos ensinar muito tanto os que buscaram tirar o máximo proveito, com o menor esforço ou sob perspectivas muito individuais, quanto as pessoas que ignoraram a regra, "pulando para fora do balde" e destacando-se positivamente.

Exemplo positivo vem do Tiago Daltoé, por exemplo. É hospitalista, coordenador de grupo em Caxias do Sul, médico competente e bem sucedido. Tendo sido um dos que mais me ajudaram no que até hoje representa quase todos os esforços para promover a MH no Brasil, nunca pediu cargos ou outros espaços e benefícios. Diferente de muitos, soube ser assertivo ao frizar com clareza em que momentos ou circunstâncias seria possível contar com ele ou não. E muitas vezes também disse não. Mas nunca usou comigo a desculpa da falta de tempo - tão comum, e ainda muito utilizada ao final, e não no ponto de partida, como pelo menos deveria ser.

A falta de tempo é uma das desculpas mais usadas em todos os cenários. E verdade é que a falta de tempo é mais uma consequência do que um problema. A consequência de ter outras prioridades. Da falta de foco. Da falta de eficiência. Ou da falta de verdade.

Daltoé trabalha horrores como médico, tempo sobrando não possui. Tem ainda uma ampla rede social e sabe cultivá-la. Possui um blog sobre culinária super ativo (isto mesmo, culinária). E ainda organiza carnaval. Com Grazi, sua esposa, é um dos principais responsáveis pelo Bloco da Velha, participando das reuniões de organização à festa propriamente dita.



No ano passado, o Bloco reuniu aproximadamente 300 pessoas. Os foliões foram acompanhados por um trio elétrico, com os músicos caxienses intitulados Fujimo dos Pavilhon entoando marchinhas e sambas-enredos.

A falta de tempo é um mito, no mínimo por ser sempre relativa. E nada relativo é o fato de que quando é possível unir o útil ao agradável, as chances de sucesso aumentam uma barbaridade. Ou, pelo menos, quando o trabalho, no seu sentido mais amplo, é prazer, a vida se torna uma grande alegria.

É isto, não foi a toa: Daltoé ajudou a transformar a MH em samba! Quem serão os seguidores?

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