O movimento já pode fluir mais naturalmente e sem máscaras.
Fui apresentar o modelo em mais um hospital. Na verdade, já estive nele apresentando a Medicina Hospitalar há alguns anos, depois em 2008 convidei a alta direção para participar do I Congresso Brasileiro de Medicina Hospitalar e disseram, na época, que ficaram “interessados”. Ontem havia inúmeros participantes... representantes da alta direção, de comissões hospitalares, do corpo clínico, médicos, enfermeiros e assistente social.
Não demorou muito e veio o costumeiro questionamento: “mas hospitalistas não assumem pacientes nos hospitais, eles servem apenas de apoio ao médico assistente, certo?”.
Tempos atrás nosso grupo literalmente se atrapalhava nesta hora. Sem querer criar anticorpos contra o modelo, tangenciávamos, subjetivávamos, relativizávamos. Acho que aumentávamos a insegurança tentando fazer as pessoas acreditarem que hospitalistas viriam para ocupar um espaço vazio e que não iriam interferir naquele onde já existisse matéria de qualquer natureza. “O modelo vem para aumentar qualidade, atenuar o problema dos erros na assistência à saúde, mas fora isto não atrapalha ninguém”, dizíamos. Certamente ninguém acreditava completamente.
Fazíamos isto, consciente ou inconscientemente, porque queríamos ver a idéia avançar. Naquela época havia a bem-sucedida experiência norte-americana para servir de parâmetro, nada de concreto no Brasil e algumas diferenças importantes entre os dois sistemas de saúde. A ansiedade de começar e incertezas nos atrapalhavam.
Os tempo são outros. Hoje já é possível apresentar dados nacionais e resultados consistentes. Falam por si só.
Case do Hospital Santa Izabel de Blumenau: Filantrópico. Os hospitalistas iniciaram no SUS, mas estão crescendo em direção aos pacientes com planos de saúde. Dados de pacientes do SUS: Foram incluídos 509 pacientes do período pré-hospitalista e 423 pacientes do período pós-hospitalista. Houve tendência na redução de média de dias de internação de 10,4 para 7,6. Com essa redução, houve um acréscimo na rotatividade de pacientes. Considerando apenas o repasse de AIH´s, fizemos uma economia de mais 100.000 reais no período de 6 meses.Não precisamos mais encontrar alguém que compre a qualquer custo a nossa idéia. Amadurecemos – como movimento e como grupo. Por vezes, saio de reuniões com lideranças de alguns hospitais até torcendo para que não avancem. Falta-lhes uma cultura de segurança minimamente alicerçada. Já sou capaz de entender também, e não me frustrar, quando representantes da alta direção de um hospital com potencial dizem que não é o momento para tentar, que há outras prioridades. Afinal de contas, o modelo não é mágico e qualidade assistencial é algo demasiadamente complexo e dependente de inúmeras variáveis. Sequer todos os hospitais necessitariam do modelo, e certamente não são todos os pacientes de um hospital que precisam de hospitalistas. Houve a época em que, empolgados demais, consciente ou inconscientemente, vendíamos a idéia com um viés bastante significativo, sem favorecer o seu aproveitamento.
Case de hospital de pequeno porte do litoral do Rio Grande do Sul que atende principalmente pacientes do SUS. Será oficializado em publicação específica. Comparados resultados de pacientes internados para hospitalistas e no modelo tradicional. Se, considerada a situação hipotética, de que todas as 250 internações em clínica médica pelo SUS realizadas pelo hospital durante o período do estudo fossem feitas por cada um dos modelos assistenciais, exclusivamente, e tomando-se, para este cálculo, como base o valor do custo médio por paciente internado, o que se percebe é que o grupo dos médicos tradicionais apresentariam um resultado negativo de R$ 11.942,50 ( 10,59 % acima dos valores recebidos pelas 250 AIHs geradas), enquanto os hospitalistas teriam um resultado positivo de R$ 39.792,50 ( 35,29 % abaixo dos valores recebidos pelas 250 AIHs geradas). Esta diferença criaria um abismo percentual da ordem de 45,88 % entre os dois grupos, o que significa nada menos do que R$ 51.735,00 em um período de 60 dias, sem comprometimento de qualidade.
O medo do desconhecido é a grande barreira para as mudanças. Hospitalistas representam mudança e inovações são sempre candidatas ao risco. De fato, tendem a alterar inclusive o próprio papel do elemento humano já estabelecido no sistema, no contexto organizacional, produtivo e social. Apresentando o modelo como ele realmente é, sem máscaras e sem rodeios, percebe-se que alguns se inquietam nas cadeiras. Então é o momento de demonstrar como beneficia a maioria e tentar desmistificá-lo. Alguns seguirão inquietos. Se não costuma existir o vácuo, podemos lembrar, entre outras possibilidades, que a adesão a Programas de Medicina Hospitalar é usualmente voluntária por médicos que encaminham. E onde não se fez desta forma mais freqüentemente não deram certo. "É você, caro colega, que nos encaminha o paciente, jamais por pressão de hospital ou operadora. Ou não permita que diferente disto ocorra".
Pois certamente há milhares de colegas que pouco ganham internando pacientes (financeiramente, e não somente). Com atuação eminentemente ambulatorial, havendo a necessidade de internarem algum, ou fazem se lamentando, ou até já o encaminham para algum outro colega ainda atuando no modelo tradicional. Trata-se de um paciente complexo, que requer dedicação? Encaminhe para o hospitalista! “Não haverá outro destino para este paciente recebendo alta hospitalar que o seu consultório”. Se o hospitalista quebrar este ciclo de confiança, acabou!
Para desenvolver o modelo em hospitais privados será necessária gestão de pessoas e sabedoria. Mas também é possível e potencialmente rentável.
Os tempo são outros. Não há mais porque correr ou forçar. E é por isto que defendo internamente na SOBRAMH que valorizemos os bons programas, buscando qualidade e segurança, mas sem perder o foco principal no hospitalista, nossa razão maior de existir definida em Estatuto. Incentivemos adaptações, sejamos um veículo de transformação delas. Mas já é possível e necessário separar "o joio do trigo".
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