sábado, 18 de julho de 2020

Como destruir um sistema de saúde e colocar a culpa no outro...

Engana-se quem acha que toda discussão técnica da Saúde tem necessariamente relação direta com Política ou Sistemas Econômicos. Mas muitas podem indiretamente representar profecias político-econômicas autorrealizáveis:

Essa semana percebi em redes sociais manifestações de dois médicos, ambos defensores das Cloroquinas/Ivermectinas, ambos bastante ambivalentes por atuarem profissionalmente justamente no cenário que tanto criticam.

Para o primeiro, o problema do mundo está na saúde suplementar e no mercado. Seu principal sustento vem de um plano de saúde popular. Acha que apenas o SUS pode funcionar bem.

Para o outro, a personificação do mal está nos sistemas "socializados" e, portanto, no SUS. Trabalha em hospital universitário público, o mesmo que o meu.


Paradoxal é a constatação que não há modelagem de assistência à saúde que suporte o financiamento irracional de fantasias em larga escalas (leia-se terapias sem mínima comprovação de eficácia), seja em SUS ou na saúde suplementar dos planos para cidadãos médios/comuns, como eu e provavelmente tu.

Fossem qualquer um desses cenários conduzidos predominantemente por médicos a imagem e semelhança de qualquer um dos dois, ambos, mais cedo ou mais tarde, sucumbiriam/rão. Então, talvez o sistema que tanto criticam seja mais um espelho deles próprios do que predestinado a não dar certo a priori.

Uma desses medicamentos sem comprovação de eficácia custou aos cofres públicos de uma cidade catarinense de 200.000 pessoas R$ 4,4 milhões, fora os custos indiretos por estrutura de distribuição. Precisa explicar melhor como apostar em incerteza muito acima do aceitável pode lesar?

Para ambos os médicos, só restaria a defesa de planos de saúde extraclasse, caríssimos, cujas mensalidades já incorporassem “qualquer coisa”, no estilo parque da Disney com Fast Pass. Infelizmente, nunca serão solução para aplicação em massa. 

Pacientes que não compreendem e criticam seus planos de saúde, também cumprem profecias autorrealizáveis.

Esses médicos e esses pacientes JUNTOS, literalmente f... qualquer sistema de saúde não elitista, seja público ou privado. Para depois encher nossa timelines de lamentações ou teorias de como fazer melhor.

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