sábado, 8 de março de 2014

Parabéns à Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade

A SBMFC posicionou-se oficialmente, através de seu site, contrária à utilização liberal da vacina contra o HPV e, indiretamente, contra campanha do Ministério da Saúde. Sem entrar no mérito técnico da discussão (leia mais aqui se quiser), parabenizo pelo seguinte:

- Anos atrás, minha percepção era de que a SBMFC funcionava como um simples braço político e estratégico do MS.

- Se a SBMFC sempre foi implacável na crítica ao relacionamento dos médicos com a indústria farmacêutica, por razões complexas, muito pouco refletia sobre seus próprios conflitos de interesse (entenda a partir deste fluxograma).

Pois este posicionamento agora demonstra amadurecimento. Não traduz estarem contra o MS (nem deveria) , mas um posicionamento técnico-científico e, certamente, um momento de maior independência institucional. Fazem num tom adequado, estejam com a verdade ou não. Traduzem centralidade no paciente. Quisessem agora até mesmo apoiar outras iniciativas do MS, e teriam maior credibilidade (que isto não seja usado como estratégia, por favor). O contrário da forma como a Fiocruz recentemente posicionou-se a favor de política do Governo, comportando-se mais como um braço político do atual MS do que como instituição científica (leia mais aqui).

Raramente vi sociedade médica questionar qualquer coisa que colocasse a indústria farmacêutica em saia justa. Algumas vezes é preciso. Se as organizações simplesmente refletissem sobre isto, acho que já avançaríamos.

Da mesma forma que ainda proponho à SBMFC reflexão sobre o que acontecia antes com eles. Curiosamente, era na época do Governo PSDB. Lembrem (é público e notório) que já houve maior financiamento do MS à SBMFC. Talvez existam ensinamentos ocultos nisto....

O fato é que é fácil para todos nós questionar conflitos de interesse dos outros. Difícil é gerenciar os nossos e manter relacionamentos sadios. É este o principal e mais complexo desafio. Outra maneira de lidar com estes conflitos é os evitando. Se for viável, também é fácil.

Certa vez, em pequena associação médica que iniciou sua história com importante separação da indústria farmacêutica, como proposta para o futuro, e considerando até mesmo uma aproximação com a indústria, propus que críticos do relacionamento com o Estado/Governo liderassem a construção de políticas para gerenciamento de conflitos de interesse com o Estado/Governo. E que críticos do relacionamento com a indústria liderassem políticas para gerenciamento de conflitos de interesse com a indústria. Não houve muito eco. Preferimos correr riscos ao trabalho de atuar preventivamente. Há necessidade de mudança cultural...

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