sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O corredor da morte nos hospitais

"Aqui, olha, deixam a gente na musiquinha”, disse a recepcionista do Hospital Barra d’Or, no Rio de Janeiro, apontando para o telefone em viva voz. Ela tentava, sem sucesso, autorização do Bradesco Saúde para Hélio Araújo ser atendido na emergência. Hélio tem 91 anos e é meu pai. Sofreu uma queda em casa, e um armário caiu por cima dele.  Esperava na cadeira de rodas, a mão enfaixada, pingando sangue no lobby do hospital. Não sabíamos se havia fratura da mão ou um dano no crânio. Meus pais pagam R$ 2.440 por mês ao plano de saúde. A mesma seguradora desde 1978...

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domingo, 15 de dezembro de 2013

As raízes da "desumanização"


Parte #1    ;    Parte #2    ;    Parte #3    ;    Parte #4

O médico humano e competente não consegue trabalhar neste tipo de ambiente (adoece). É o contexto desumano que faz a seleção natural...

Agora, é impressionante a falta de visão sistêmica da realidade nacional (ou coisa pior) por parte dos que "pensam" nosso sistema de saúde. Senado e Câmara já se posicionaram a favor de projeto de lei que obriga hospitais do país a ter "certificação de qualidade". Falta somente a Comissão de Seguridade Social e Família.

Parece-me uma inversão total de prioridades. Como sugere Maslow, necessidades de nível mais baixo devem ser satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto. "A pessoa (ou a organização, ou o país) tem que ser coerente com aquilo que é na realidade".

Na pirâmide de Maslow, falta fisiologia para o nosso sistema de saúde. E querem falar de qualidade, que é a cereja do bolo!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Falta mais eficiência ao SUS do que verba

Os problemas de acesso e cuidados especializados no SUS têm mais a ver com desorganização e ineficiência do que com falta de dinheiro.

Essa é uma das conclusões do Banco Mundial em relatório obtido com exclusividade pelaFolha que analisa 20 anos do SUS e traça seus desafios.

O próprio governo reconhece a desorganização, mas aponta avanços nos últimos anos.

O subfinanciamento é sempre citado por especialistas, gestores e governos como uma das principais causas para as deficiências do SUS.

E o Banco Mundial reforça isso: mais da metade dos gastos com saúde no país se concentra no setor privado, e o gasto público (3,8% do PIB) está abaixo da média de países em desenvolvimento.

Mas o relatório afirma que é possível fazer mais e melhor com o mesmo orçamento.

"Diversas experiências têm demonstrado que o aumento de recursos investidos na saúde, sem que se observe a racionalização de seu uso, pode não gerar impacto significativo na saúde da população", diz Magnus Lindelow, líder de desenvolvimento humano do banco no Brasil.

Um exemplo citado no relatório é a baixa eficiência da rede hospitalar. Estudos mostram que os hospitais poderiam ter uma produção três vezes superior à atual, com o mesmo nível de insumos.


Mais da metade dos hospitais brasileiros (65%) são pequenas unidades, com menos de 50 leitos - a literatura internacional aponta que, para ser eficiente, é preciso ter acima de cem leitos.

Nessas instituições, leitos e salas cirúrgicas estão subutilizados. A taxa média de ocupação é de 45%; a média internacional é de 70% a 75%.

As salas de cirurgias estão desocupadas em 85% do tempo. Ao mesmo tempo, os poucos grandes hospitais de referência estão superlotados.

"No Brasil, sempre houve grande pressão para não se fechar os hospitais pequenos, o que não ocorre no exterior. O problema não é só ineficiência, mas a falta de segurança desses locais", diz a médica Ana Maria Malik, do núcleo de saúde da FGV.

Mas a questão hospitalar é só um ponto. Grande parte dos pacientes que vão a emergências hospitalares é de baixo risco e poderia ser atendida em unidades básicas.

Dois estudos citados pelo Banco Mundial estimam que em 30% das internações os pacientes poderiam ter sido atendidos em ambulatórios.

"O Brasil tem alto índice de internações por causas sensíveis à atenção primária, que poderia ser minimizado com melhor organização do fluxo assistencial, gerando, assim, uma menor pressão na rede hospitalar", diz Lindelow.

Cuidado adequado para hipertensos e diabéticos, rastreamento de câncer de colo de útero e mama, por exemplo, são ações que podem reduzir parte dessas internações e da mortalidade precoce.

Para o médico Milton Arruda Martins, professor da USP, uma razão para a baixa eficiência na atenção básica é o grande número de pacientes por equipe de saúde da família. "É do dobro do que se preconiza. Se cada equipe tivesse um número menor de pessoas para atender, a capacidade resolutiva seria maior."

Segundo Lindelow, a atenção especializada é outro desafio que não se restringe a equipamentos e insumos. "É essencial investir em capacitação, criação de protocolos e regulação de demanda que permita o acesso a especialistas, exames e cirurgias."

Na opinião de Milton Martins, a rede secundária também é insuficiente. "Pequenas cirurgias, como catarata e hérnia, podem ser feitas fora de hospitais, em ambulatórios, mas não há especialistas nem estrutura para isso."

Fonte: CLÁUDIA COLLUCCI, FOLHA


E o que acontece com as verbas públicas?

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O público e o privado

“O Brasil sofre de uma forte e resistente miopia sobre os limites entre o público e o privado. Historicamente, a elite política brasileira é patrimonialista. Os poderosos tendem a confundir o poder político com o direito de usar a abusar do patrimônio público como se fosse sua propriedade privada. O patrimonialismo vem de longe. O Brasil já nasceu loteado por potentados portugueses que ganhavam da coroa aqui vastas concessões de terra. Na mesma caravela vinham os poderes quase absolutos para administrar sua gente e sua riqueza. Esse pecado original ainda hoje marca a condução da coisa pública no Brasil”.

Não, não voltei a abordar a SOBRAMH com este texto. Embora tudo indique que dela e de seu patrimônio tenham se apropriado, não me diz mais respeito. Chamo atenção apenas que os mesmos que a tratam como propriedade privada costumam replicar conteúdos como este acima, trecho de Carta ao Leitor da Veja. Como podemos cobrar de quem nos governa este tipo de postura, se aceitamos a prática em nosso próprio dia-a-dia?

Na tentativa de deixar definitivamente para trás a SOBRAMH, porque seu site está inativado há algum tempo, entrei em contato com o desenvolvedor na tentativa de resgatar um texto de minha autoria que estava lá, da época de minha gestão, cujo arquivo, junto ao backup que tenho do conteúdo que desenvolvi, estava corrompido. Eis que, ingenuamente, porque não sabe mesmo dos bastidores e é altamente profissional, contou que a "nova diretoria" já estava providenciando atualização do site e reinauguração. É claro, sem estas coisas como eleições e prestação de contas... Isto é para os fracos!

E antes que pensem bobagem, não só gosto como assino a Veja. Acabei de ler a minha, diga-se de passagem!

domingo, 1 de dezembro de 2013

Julgamento de evento adverso

Segundo inúmeros participantes, um dos pontos altos da ISQua deste ano foi a encenação de um julgamento de um evento adverso fatal ocorrido em um hospital inglês. Todos os envolvidos: médico, enfermeiro, farmacêutico e CEO no banco dos réus e a platéia como juri. Reflexão muito interessante sobre a judicialização da medicina. Vale a pena ver.