sábado, 20 de julho de 2013

Insegurança hospitalar

"Um doente tem mais probabilidade de morrer ao se internar num hospital do que no campo de batalha de Waterloo."

Ao comparar os perigos hospitalares ao confronto que marcou a última batalha de Napoleão, o obstetra escocês James Young Simpson (1811-1870) não exagerou.

Quase um século e meio depois, os hospitais continuam sendo um ambiente cheio de riscos ao paciente, onde frequentemente ocorrem mortes e danos que poderiam ter sido evitados se houvesse uma cultura preventiva.

O marco dessa discussão ocorreu em 1999, quando o Instituto de Medicina dos Estados Unidos publicou o relatório "To err is human" (Errar é humano), em que estimou em até 98 mil as mortes evitáveis nos hospitais norte-americanos.

Em 2009, a OMS recomendou aos hospitais a adoção de um checklist antes das cirurgias, capaz de reduzir em 47% a mortalidade e as complicações. Perguntar o nome do paciente e qual órgão será operado estão entre as recomendações.

Vários países mantêm programas exitosos de segurança do paciente, alguns apresentados em junho no QualiHosp (congresso sobre qualidade nos serviços de saúde).

O Brasil acordou tarde para o problema. Só neste ano, em 1º de abril, é que o Ministério da Saúde lançou um programa para prevenir e reduzir erros dentro dos hospitais. São muitas as barreiras pela frente, começando pelo fato de que é difícil implantar normas de segurança do paciente dentro do caos vivido pela maioria dos hospitais brasileiros, por problemas de má gestão e de subfinanciamento.

Também será preciso mudar a cultura hospitalar de esconder o erro por medo da punição. Sem buscar soluções preventivas, os problemas se repetem e se agravam.

É um caminho longo, mas urgente e necessário. Só assim notícias de criança morrendo por receber vaselina na veia em vez de soro vão parar de ocupar as páginas dos jornais.

por Cláudia Collucci, repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde.

Interessante ler os comentários na fonte, alguns estimulam a cortina de fumaça que é preciso combater...

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