quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Aspectos econômicos da Medicina Hospitalar

Recentemente recebi e-mail de gestor médico de importante hospital, onde escreveu:

Gostaria de conversar com você, trocar um pouco de experiências, gostaria de sugerir a implantação de um modelo hospitalista em uma ala do hospital (como exercício).

Mas há muita resistência dos administradores, uma vez que enxergam perda de rendimentos. Gostaria de poder argumentar com eles acerca de eventual redução na utilização de recursos do hospital, o que poderia trazer queda no faturamento hospitalar


Tenho a impressão que a resistência que descreve pode estar se dando em parte por confusão de conceitos, e não por resistência à Medicina Hospitalar propriamente dita (por parte dos adminstradores, pelo menos).

Em recente Fornecedores Hospitalares, há reportagem onde contam que um hospital gasta 60 mil reais por mês para manter hospitalistas. Ocorre que o hospital contratou médicos para um plantão clínico que assume protagonismo em Time de Resposta Rápida, além de auxiliar em questões de interesse administrativo e outras relacionadas à qualidade assistencial e segurança dos pacientes da instituição. Mas sem assumir diretamente nenhum dos pacientes (até bem recentemente, pelo menos), o que caracteriza um plantão clínico apenas, e não Medicina Hospitalista.

Apesar do modismo e de incentivos de gigantes como o Institute for Healthcare Improvement, os TRR’s até o momento não demonstraram ser realmente capazes de reduzir mortalidade (os principais trabalhos são negativos). Não se sabe ao certo se os benefícios eventualmente encontrados em avaliações tipo antes-depois em centros únicos são atribuíveis aos TRR's em si ou a educação da equipe de enfermagem na boa aplicação de "critérios de chamada". Custo-efetividade em comparação com outras intervenções que busquem evitar paradas cardiorrespiratórias nos hospitais ainda requer cuidadosa avaliação para o bem do sistema, pois talvez devamos ter outras prioridades antes dos TRR’s, como, por exemplo, aumentar a relação enfermeiro por leito e melhor educá-los (há trabalhos positivos até em relação à mortalidade e demonstrando custo-efetividade) ou estimular a utilização de hospitalistas de fato.

Defendo ainda que caso se opte por iniciar um TRR em hospital, que seja sem a necessidade de staff adicional. Pode sair da UTI, por exemplo, aproveitando quem já é contratado do hospital e possui expertise no manejo de pacientes graves. Este modelo pelo plantão clínico tem tudo para ser muito oneroso, embora em muitas instituições ainda acredito que sejam necessários e utéis.

Segundo Provonost, "it would be a mistake to reject the teams with the same haste that we accepted them“.

Interessante trabalho observacional apresentando no PASHA2010 sobre TRR demonstrou que reduziram PCR’s no andar. Dos pacientes que foram a óbito em até 48h após o atendimento do TRR, mais de 80% poderia estar em cuidados paliativos. Gasto de pólvora em chimango? Pior: pacientes recebendo a abordagem errada e deixando de serem beneficiados por paliativismo. Nesta instituição, por exemplo, se alocassem parte significativa dos recursos hoje empregados no TRR em um programa de medicina paliativa, talvez beneficiassem mais pessoas sem a necessidade de extinguir o TRR - que poderia ser redimensionado. Sorte que lá medem, avaliam e reorientam, se necessário. É uma instituição com sólida cultura de qualidade e segurança.

É isto, somente conhecendo cada realidade e reavaliando sempre tudo que se faz é que buscamos a (inatingível) perfeição!

É importante citar ainda, em resposta ao colega, o caso do Hospital Santa Isabel de Blumenau, onde atuei como colaborador. O HSI é um filantrópico. Os hospitalistas iniciaram no SUS, mas estão crescendo em direção aos pacientes com convênios. Os dados que temos de lá são de pacientes do SUS. Foram incluídos 509 pacientes do período pré-hospitalista e 423 pacientes do período pós-hospitalista. Houve tendência na redução de média de dias de internação de 10,4 para 7,6. Com essa redução, houve um acréscimo na rotatividade de pacientes. Considerando apenas o repasse de AIH´s, fizemos uma economia de mais 100.000 reais no período de 6 meses.

Na saúde suplementar? Cabe lembrar que ainda predomina nos EUA o “nosso” fee for service. E o fato é que mesmo com o esse modelo de remuneração é possível igual aumentar o faturamento hospitalar com hospitalistas, basicamente através do giro de leitos. E quem “contribui” para hospitais que atuam como varejistas de insumos são pacientes agudos, "quentes".

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